Oito e quarenta da manhã, Pavuna, Zona Norte do Rio. Em plena Estrada Rio do Pau, duas viaturas do 41º BPM (Irajá) circulam tranquilamente, sem giroscópio ligado e qualquer sinal de que estivessem indo ou voltando de uma ocorrência. Na primeira viatura, uma imagem chamou a atenção da equipe do DIA, em especial do repórter fotográfico Daniel Castelo Branco.
No compartimento para transporte de presos, antigamente conhecido por camburão, um dos policiais dormia tranquilamente, com um fuzil sobre o corpo, colocando em risco não apenas a si próprio, mas motoristas e pedestres da região. O ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) Paulo Storani se espantou ao ver as fotos feitas pelo DIA e criticou não apenas o policial, mas toda a estrutura de segurança pública, e a falta de planejamento das forças de segurança.
“Claro que a culpa vai ficar com o policial, que não deveria estar naquela situação em hipótese alguma. Mas ninguém vai falar que os PMs do Rio estão esgotados fisicamente. A demanda tem aumentado e o efetivo não consegue acompanhar. Assim, é preciso cassar folgas e férias destes policiais, e o resultado é este aí”, explicou Storani.
Segundo Paulo Storani, explorar o trabalho de um policial à exaustão deve ser evitado a todo custo, pois o preço desse estresse normalmente cai na conta da população fluminense.
“No caso deste policial, por exemplo, se surgisse alguma ocorrência naquele local, ele precisaria de mais tempo para reagir e tomar a decisão acertada. E faria isso da pior maneira. Além desta decisão, ele também precisaria estar em bom estado físico para realizar uma ação eficaz. E não está. Ou seja, não vai dar certo”, exemplificou o ex-caveira.
A PM, através da sua assessoria de imprensa, informou que o policial estava em uma operação no Complexo da Pedreira, em Costa Barros, durante a madrugada e que “os PMs encontraram criminosos armados na comunidade e houve confronto. Ao sair da incursão, o policial sentiu a necessidade de se deitar após viver um momento de estresse”.
Moradora da Pavuna, a atendente de telemarketing Luciana Souza, de 25 anos, presenciou a cena e não acreditou no que viu. Ela estava a caminho do trabalho quando viu as viaturas. “Pensei que o policial estivesse morto ou ferido. Mas seria um desrespeito com ele aquela situação. Se estava dormindo, é um desrespeito com a população. E se aquele troço dispara? Mata um”, questionou Luciana.
PM diz que afastará policial das atividades
A Polícia Militar informou que o subcomandante do 41º BPM (Irajá), major Mattos, já identificou o policial flagrado e o encaminhou para Setor de Psicologia do batalhão para ser submetido a avaliação. O PM foi afastado das suas atividades nas ruas e atuará temporariamente no serviço interno da unidade. A assessoria de imprensa da PM não informou sobre a escala de trabalho do policial e se ele teve folgas ou férias cassadas nos últimos dias.
Fonte: O DIA RIO
Por Otávio Neto
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