Infelizmente, o feminismo sempre foi v�tima de pessoas que o tomam nas m�os para lhe dar uma forma completamente distorcida e distante do real prop�sito e conceito. Entretanto, n�o sei o que � pior: o feminismo distorcido ou a completa falta dele, principalmente quando a atitude base vem das pr�prias mulheres. Com isso, podemos dizer que o sentimento feminista � inerente � mulher, num maior ou menor grau.

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Ora, uma das defini��es do Feminismo � a busca da compreens�o da desigualdade, examinando os pap�is sociais das mulheres para responder quest�es como a constru��o social do sexo e g�nero. Foram os movimentos feministas que fizeram campanha pelo direito das mulheres de votar, de ocupar cargos p�blicos, de ter sal�rios justos - ou a igualdade de remunera��o - de ter propriedade, educa��o, de obter contratos, dos direitos iguais dentro do casamento, licen�a maternidade, entre outros. Al�m deste conceito universal, o movimento tem criado outras formas de Feminismo, que atendam necessidades �ticas e culturais espec�ficas, e n�o somente as de um mundo ocidental, branco e de classe m�dia.

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O feminismo tamb�m t�m trabalhado, ao longo dos anos, para promover a autonomia e a integridade f�sica, a fim de proteger as mulheres e crian�as de estupro, ass�dio sexual e viol�ncia dom�stica. A mesma mulher que tem um cargo excelente numa empresa renomada, a mesma mulher que dirige, vota, que � protegida por leis para as mais diversas circunst�ncias de sua vida. Porque este movimento � feito para ela, para mim, para todas n�s. Porque � uma boa causa pela qual lutar, sempre. E todas n�s usufruimos os resultados ao longo dos anos. Os movimentos feministas s�o considerados como uma das principais for�as por tr�s de grandes mudan�as sociais hist�ricas. Como uma mulher, depois disso tudo ser conquistado, depois de diversas mulheres terem lutado em seu lugar, afirma-se n�o feminista?

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Recentemente, o best-seller "The Feminine Mystique" (A m�stica feminina), publicado em 1963 pela feminista, pensadora e escritora americana Betty Friedan. No livro, Betty compara a ocupa��o de uma dona de casa com os campos de concentra��o nazistas, tamanho � o inferno relatado por algumas mulheres. A ideia soa exagerada. No entanto, a compara��o n�o � feita para criticar um estilo de vida, muitas vezes escolhido e vivido em sua plenitude de contentamento por muitas mulheres. Baseado em relatos reais, diversas entrevistas e anos de pesquisas, o livro critica uma cultura machista que pressiona a mulher a cumprir o papel que lhes � imposto, atrav�s da educa��o e doutrina��o feminina, mas tudo isto � visto com normalidade pela pr�pria sociedade.

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Neste processo, o qual a autora chama de "crescente desumaniza��o", muitas mulheres acabam por tornarem-se um conceito mistificado e glorificado da dona de casa, que vive em fun��o dos outros e jamais para si mesma. Uma gradual perda da identidade feminina que � desperdi�ada para servir ao outro. A dona de casa, aqui, � a completa anula��o de si mesma. Ela n�o vive, ela cumpre um papel. N�o � surpresa o fato de que o livro ganhou notoriedade em muito pouco tempo e estremeceu a sociedade machista norte-americana da �poca.

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Para perceber melhor esse processo, e suas consequ�ncias sociais, a autora afirma que a "domestica��o e infantiliza��o da mulher" afeta n�o somente a sa�de f�sica e mental feminina, mas tamb�m os valores e conceitos do universo feminino, qual passam de uma gera��o a outra. A autora aponta que ap�s a Crise de 1929, e o per�odo p�s-Segunda Guerra, esse conceito foi refor�ado e estimulado, atrav�s da m�dia - que pregava como ser uma dona de casa perfeita, criando mulheres frustradas que desenvolviam diversos dist�rbios psicol�gicos, oscilando desde a depress�o at� o consumismo - condi��es consideradas, at� hoje, como sendo fen�menos naturais femininos e, tristemente, tratados com um ar c�mico.