Dos 2.681 planetas fora do Sistema Solar já encontrados pelo telescópio espacial Kepler, da Nasa, entre 2009 e 2018, este é o mais parecido em tamanho e possivelmente em temperatura com o nosso planeta, de acordo com um novo estudo publicado nesta quarta-feira (15) na revista científica “Astrophysical Journal Letters”.
O Kepler foi “aposentado” em 2018, mas os dados coletados por ele podem levar a mais descobertas nos próximos anos. Foi justamente vasculhando este arquivo que os pesquisadores encontraram o novo planeta.
Intitulado Kepler-1649c, ele é 1,06 vez maior que a Terra e recebe cerca de 75% do total de luz que nosso planeta recebe do Sol. Isso sugere que a temperatura em sua superfície pode ser similar à da Terra.
O planeta também está localizado na zona habitável de sua estrela, distante o suficiente para que a água se mantenha líquida –o que também indica a possibilidade de suportar vida.
Kepler-1649c, porém, orbita uma estrela anã-vermelha, muito menor e mais fria que nosso Sol. Nos últimos anos, diversos planetas foram descobertos orbitando esse tipo de astro, que é bem comum em nossa galáxia, a Via Láctea.
O planeta está muito mais próximo de sua estrela do que a Terra está do Sol: um ano lá dura o equivalente a 19,5 dias terrestres. Isso indica ainda que o Kepler-1649c pode ser atingido por explosões de radiação da estrela, ameaçando qualquer vida potencial. Apesar disso, nenhuma explosão do tipo foi detectada até agora.
Além disso, os cientistas ainda não sabem muito sobre a composição da atmosfera do planeta, o que poderia aumentar a estimativa de temperatura da superfície. Os pesquisadores sabem que há outro planeta de tamanho semelhante orbitando a mesma estrela, mas muito mais perto dela, como Vênus no nosso Sistema Solar, informou a Nasa.
“Este intrigante mundo distante nos dá ainda mais esperanças de que uma segunda Terra encontra-se entre as estrelas, aguardando para ser encontrada”, disse Thomas Zurbuchen, administrador associado da Diretoria de Missões Científicas da Nasa, em Washington. “Os dados coletados por missões como a [do telescópio especial] Kepler e do nosso Satélite de Pesquisa de Exoplanetas em Trânsito (Tess, na sigla em inglês) irão continuar produzindo descobertas espetaculares enquanto a comunidade científica refina suas habilidades para procurar planetas promissores ano após ano.”
O Kepler-1649c se junta a outros intrigantes planetas com tamanho similar, como Trappist-1F, no sistema Trappist, a 39 anos-luz da Terra. Outros exoplanetas, como Trappist-1D, e TOI 700d, têm temperatura similar à estimada de Kepler-1649-c.
Mas o novo exoplaneta é o mais interessante, pois tem tamanho e temperatura similares aos da Terra, além de estar na zona habitável de sua estrela.
Inicialmente, Kepler-1649c foi esquecido porque um algoritmo de computador chamado Robovetter o classificou como falso positivo. Computadores podem errar, então os cientistas de um grupo especializado em analisar os falsos positivos reavaliaram os dados e identificaram o corpo como sendo um planeta.
“De todos os planetas errados que recuperamos, este é particularmente emocionante --não apenas porque está na zona habitável e ser do tamanho da Terra, mas também devido à maneira como ele pode interagir com este planeta vizinho", disse Andrew Vanderburg, pesquisador da Universidade do Texas, em Austin, e o primeiro autor do estudo. "Se não tivéssemos examinado o trabalho do algoritmo manualmente, teríamos perdido ele."
Os cientistas acreditam que pode haver um terceiro planeta no sistema, apesar de ele não ter sido avistado ainda. Isso porque o primeiro e o segundo planetas têm uma ressonância orbital: suas órbitas se alinham em uma proporção estável. A cada nove vezes que Kepler-1649c orbita sua estrela, o planeta mais próximo completa quatro órbitas. Um outro planeta poderia existir entre os dois.
“Quanto mais dados obtemos, mais sinais apontam para a noção de que exoplanetas potencialmente habitáveis e do tamanho da Terra são comuns em torno desse tipo de estrela", disse Vanderburg. "Com as anãs vermelhas em quase toda a parte da nossa galáxia, e esses pequenos planetas rochosos potencialmente habitáveis ao redor delas, a chance de um deles não ser muito diferente da nossa Terra parece um pouco mais palpável."
Bianca Viana
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