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  02:15

Morre aos 81 anos, Maria da Inglaterra, cantora e compositora Piauiense

Artista de 81 anos estava internada no Hospital de Urgência de Teresina (HUT) e faleceu vítima de doença renal crônica aguda. Mesmo sem saber ler ou escrever, ela compôs mais de 2.000 músicas e se tornou referência cultural.

 Com informações: G1

A cultura do Piauí perdeu um ícone e ficou, a partir de agora, menos alegre. A compositora Maria da Inglaterra morreu, aos 81 anos, no Hospital de Urgência de Teresina (HUT). A informação foi confirmada pela assessoria do hospital, na madrugada desta sexta-feira (8), e pelo produtor cultural José Dantas, amigo da família.

Maria da Inglaterra estava internada desde a última segunda-feira e faleceu às 22h10 de quinta-feira, vítima de doença renal crônica aguda. Ainda não há informações sobre o velório.

No começo da semana, a compositora procurou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Satélite, Zona Leste de Teresina, com um quadro de diarreia. No posto médico, foi hidratada com soro, porém, o estado de saúde não melhorava.

"Os médicos constataram que havia um problema renal e foi para o HUT. Fizeram exames e constataram que os rins estavam comprometidos. Foram fazer uma hemodiálise, mas o quadro se agravou", relatou José Dantas, amigo e ex-empresário da artista.

Maria Luiza dos Santos e Silva virou cantora aos 26 anos. Em entrevista revelou ter tido uma visão, uma luz, para subir aos palcos que dizia “Maria, vamos cantar". O chamado apareceu na janela de casa. Desse dia em diante não parou mais de cantar. Mesmo sem saber ler ou escrever, compôs mais de 2.000 músicas.

"Sou uma mulher guerreira, nunca me escorei em nada. Venci tudo. Sofri fome, necessidade, junto com meu marido e meus filhos. Eu não sabia ler, andava com papel debaixo do braço para saber onde se registrava música. A vida me ensinou muita coisa, quero levar isso quando ir, se Deus quiser", Maria da Inglaterra, em 2013.

Em 1973, na primeira vez que subiu em um palco, Maria da Inglaterra foi campeã do Festival Universitário, realizado no Teatro de Arena, em Teresina, com a música “O Peru Rodou”.

Dois anos depois foi descoberta por Ricardo Cravo Albin, quando, em viagem pelo Brasil através do PAC (Plano de Ação Cultural do Ministério da Educação e Cultura), com o projeto História da Música Popular Brasileira "De Chiquinha Gonzaga a Paulinho da Viola".

Na ocasião, o pesquisador, impressionado com sua postura, que evocava ares de nobreza, a apelidou de 'Maria da Inglaterra', seu nome artístico conhecido por todo o Brasil. A autenticidade e a força das melodias impressionavam.

Na década de 1980 participou do projeto Pixinguinha, no Rio de Janeiro. Em 2010, a cantora foi homenageada no Dia Internacional da Mulher pelo programa Domingão do Faustão. Na ocasião ela se apresentou no programa, contou sua história e cantou. "Maria da Inglaterra todo mundo sabe", anunciou Fausto, na apresentação.

Aos 79 anos, já mostrando dificuldades para andar, Maria da Inglaterra ganhou uma homenagem de amigos e virou história em quadrinhos. À época disse que o ganhou com a música "foi muito pouco". 


"Maria era um patrimônio da nossa cultura"

Responsável pela carreira da artista, José Dantas relatou que a morte de Maria da Inglaterra deixa um vazio na cultura do estado. "Era um patrimônio vivo da nossa cultura, da nossa música de raiz, da música mais regional. Temos poucas referências, e a Maria era uma referência muito diferenciada, disse José Dantas.

"Uma analfabeta que não sabia nem ler e escrever e fez canções, se tornou uma artista, se projetou no Brasil com suas músicas", relatou o produtor cultural. "É uma perda irreparável, dimensionar essa perda não dá", continuou.

 

"Maria entre amigos"

Quando completou 77 anos, Maria da Inglaterra teve a carreira contada em um DVD. O projeto "Maria entre amigos" apresentou releituras de sua composições feitas por músicos do Piauí. Daniel Hulk, Roraima, Rosinha Amorim, Wanda Queiroz, Soraya Castello Branco, Iracema Teles, Luciana Nunes, Gonzaga Lu, Nadedja Leal, Chagas Moura e Duda Li participaram do projeto.

Um nódulo na garganta impedia Maria da Inglaterra de cantar desde 2011, com isso passou a sobreviver apenas com a aposentadoria de um salário mínimo. Maria, descrita pelo musicólogo Ricardo Cravo Albin, como a “rainha da canção”, não fez fortuna. Vivia em uma residência simples, com poucos cômodos e eletrodomésticos. Quando deixou de cantar, relatou viver em uma solidão.

“Vivo porque vivo mesmo, mas não posso dizer que estou feliz. Hoje vivo na solidão. Não posso cantar e nem subir em um palco, a coisa que me deixa mais feliz na vida”, contou, em 2013.

 

Bianca Viana

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