Com credenciais e ofícios falsos do laboratório Astrazeneca, o empresário Christian Pinto Faria tentou vender ao Governo Federal cerca de 250 milhões de supostas doses da vacina da empresa britânica, revelou o Valor. Ele é o principal investigado da Operação Taipan da Polícia Federal.
A operação da PF foi deflagrada nesta quinta-feira (25/3) para cumprir mandados de busca em Paracatu (MG) e Vila Velha (ES). O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, foi o alvo de Faria e de seus parceiros.
No início de janeiro, Faria enviou um e-mail ao ministério em que se apresentou como representante exclusivo da Astrazeneca para a venda de imunizantes no Brasil por intermédio de empresa de sua propriedade, a Biomedic Distribuidora de Produtos Médicos e Hospitalares, com sede em Vila Velha.
Com o número do celular do secretário-executivo do MS em mãos, Faria enviou a ele uma mensagem. Começou, então, uma troca de mensagens e conversas que resultaram no agendamento de uma reunião, realizada no ministério em 23 de fevereiro. Antes do encontro, no entanto, Élcio Franco procurou a representação da Astrazeneca no Brasil, que informou desconhecer Faria e a empresa Biomedic.
Durante a reunião, conforme apurou o Valor, o secretário-executivo confrontou o empresário, que confirmou não manter contrato com a Astrazeneca, mas se justificou dizendo que um amigo, que também estava no encontro, era o dono de uma empresa que supostamente teria a exclusividade para comercializar a vacina. Por óbvio, o argumento não convenceu o secretário.
Ao cumprir as buscas na sede da Biomedic, a PF apreendeu centenas de frascos identificados como imunizantes. Há duas hipóteses investigadas até agora pela polícia: o empresário tentou vender vacinas falsas ou tratou-se da tentativa de obter adiantamento de valores do ministério por um produto inexistente.
A PF pediu a prisão de Faria e de outro investigado, mas a Justiça Federal do Distrito Federal autorizou apenas a realização das ações de busca e apreensão. O outro sócio da Biomedic, Edmo Dias Faria, também é alvo da investigação, aberta pela polícia a pedido do Ministério da Saúde.
Christian Pinto Faria é alvo de outras ações na Justiça. Ele é réu por improbidade administrativa que tramita na Justiça estadual do Espírito Santo. Além da Biomedic, Faria é dono da Classe Locação de Equipamentos e Entretenimentos, Serviços e Mão de Obra Eirelli. Tanto Faria como a Classe Locação são réus na ação de improbidade administrativa proposta em novembro de 2019 pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MP-ES).
De acordo com as investigações, a empresa de Faria foi contratada durante as eleições municipais de 2016 para prestar serviços de instalação de palco, som e iluminação para a campanha de Anderson Pedroni, candidato à Prefeitura de Fundão (ES) e integrante do mesmo grupo político do então prefeito do município, Joilson Rocha Nunes.
Conforme o inquérito civil, os serviços prestados pela empresa de Faria foram cobrados e declarados abaixo do valor de mercado. Em troca, segundo o MP-ES, o político teria se comprometido a contratar a Classe Locação, caso vencesse a eleição. Pedroni foi eleito, mas teve sua candidatura indeferida pela Justiça Eleitoral em 2016. Segundo o Valor, ele acabou sendo preso em fevereiro de 2017, juntamente com todos os 11 vereadores em uma investigação que apurava corrupção e desvio de recursos públicos.
Como saber se uma vacina tem qualidade
Produto dos mais aguardados em todo o mundo, a vacina contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2) tem despertado também a atenção de meliantes, que veem nela uma possibilidade de lucrar com atos criminosos. E a ação desses criminosos varia de uma infame suposta venda do imunizante nas ruas do bairro de Madureira, no Rio de Janeiro, à tentativa de fraude com um executivo do Ministério da Saúde.
Em um cenário que envolve até crimes de falsificação, como a qualidade de uma vacina é verificada? “Essa é uma pergunta muito importante, pois, não basta uma vacina ser eficaz e segura, ela também precisa ter qualidade, que é constatada em dois aspectos principais”, salienta o farmacêutico, gerente geral de medicamentos da Anvisa e professor da pós-graduação em Assuntos Regulatórios na Indústria Farmacêutica no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Gustavo Mendes.
“O primeiro aspecto é o que a gente chama de Boas Práticas de Fabricação. Isso significa que na indústria em a vacina será fabricada, que pode ser tanto no Brasil ou no exterior, as condições de boas práticas, ou seja, os equipamentos e a equipe que irá realizar a fabricação cumprem com regras internacionais de qualidade”, explica o especialista.
Outro aspecto para definir a qualidade de uma vacina está relacionado às condições de liberação de lote. “Isso significa que cada lote será submetido a testes de qualidade, para comprovar que podem ser utilizados pela população. Por isso, esses lotes deverão ter suas condições de pureza e de potência cumpridas. É assim, então, que sabemos que uma vacina tem qualidade e pode ser utilizada”, conclui Mendes.
Fellipe Portela
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