O dossiê apresentado por 12 médicos e ex-médicos da Prevent Senior à CPI da Pandemia, ao qual a CNN teve acesso, afirma que as declarações de óbito do médico Anthony Wong e da mãe do empresário Luciano Hang foram fraudadas. Wong era defensor do tratamento precoce. Segundo o dossiê, ele faleceu em um hospital da rede da Prevent por complicações da Covid 19.
“Wong fez uso dos medicamentos do kit, incluindo hidroxicloroquina + azitromicina e mesmo assim acabou evoluindo para óbito em poucas semanas (…) a médica responsável por todo o tratamento foi a Dra. Nise Yamaguchi, responsável pela prescrição dos medicamentos. Por fim, também deixou de ser noticiado que em descumprimento a obrigação legal de informar às autoridades sobre o óbito de pacientes acometidos pela Covid-19, sua declaração de óbito foi fraudada”, afirma o documento.
Na oitiva desta quarta-feira (22), o diretor da Prevent, Pedro Batista, confirmou que atendeu Anthony Wong: “Ele me ligou pessoalmente procurando atendimento, disse que ele não estava bem”. Porém, Batista se negou a revelar a causa da morte. “Tenho proibição expressa da família para não comentar dados sobre pacientes”, afirmou.
Outro caso questionado na sessão é sobre a mãe do empresário Luciano Hang, próximo do presidente Jair Bolsonaro. Em vídeo apresentado na CPI, Hang diz que se arrepende de não ter levado sua mãe para fazer o chamado “tratamento precoce”. O documento entregue à CPI afirma o contrário:
“A alegação do Sr. Luciano Hang é que sua mãe teria supostamente falecido por não ter tido a oportunidade de utilizar os medicamentos do Kit – o que não condiz com as informações do prontuário. O prontuário médico da Sra. Regina Hang prova que não só utilizou o kit, como repetiu o tratamento durante a internação e que mesmo após ter falecido por complicações da doença, a declaração de óbito foi fraudada”, revela o dossiê.
Pedro Batista confirmou, na oitiva, que Regina Hang foi internada em hospital da Prevent Senior, mas não quis detalhar o atendimento.
Procurada, a médica Nise Yamaguchi afirmou que “tendo em conta informações incorretas recentemente divulgadas, que não prescrevi qualquer tratamento precoce ao eminente Professor Dr Anthony Wong e que o visitei somente após a sua intubação, não sendo a médica responsável pela sua internação na Prevent Senior.”
Em nota à imprensa, o empresário Luciano Hang chamou as reportagens sobre o assunto de “canalhice” e disse ter confiança na Prevent Senior.
“Como qualquer filho, quando minha mãe ficou doente, eu fui para a guerra com todas as armas que eu tinha. É esse o meu crime? Minha mãe tinha 82 anos, fazia parte do grupo de risco, ficava em casa e mesmo assim pegou a doença. Ela era cardíaca, tinha diabetes, insuficiência renal, sobrepeso e outras comorbidades. Tomava dezenas de medicamentos diariamente, por isso não fizemos tratamento preventivo, aquele realizado antes de contrair o vírus. Quando os sintomas apareceram levamos para São Paulo e a doença evoluiu rápido. Lutamos com ela por mais de um mês, nesse tempo o Covid passou, mas ficaram as complicações por conta das comorbidades e, por isso, infelizmente ela se foi”, disse Hang.
“Tenho total confiança nos procedimentos adotados pelo Prevent Senior e que tudo que era possível foi feito. Deixei claro a causa do falecimento de minha mãe em várias manifestações públicas e nas redes sociais, nunca foi segredo. Lamento que um assunto tão delicado seja usado como artifício político para me atingir, pelo simples fato de eu não concordar com as ideias de alguns membros que fazem parte dessa CPI. Medem os outros pela própria régua. Só quem perde uma mãe sabe a dor que é”, completa a nota.
CPI quer prontuário de mãe de Hang
A Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia aprovou nesta quarta-feira (22) requerimento para ter acesso ao prontuário completo de Regina Hang, mãe do empresário Luciano Hang. Os senadores também aprovaram requerimento para acessar o prontuário médico Anthony Wong, que teria a informação da morte por Covid-19 omitida do documento.
A decisão aconteceu após Pedro Batista Junior afirmar que o dossiê sobre a operadora de saúde apresentado à CPI, que contém a ficha médica de Regina Hang, estava “incompleto”.
Antes disso, o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), mostrou um vídeo do empresário bolsonarista defendendo remédios do “kit Covid”.No vídeo, Hang sugeriu que a mãe, que morreu de Covid em uma unidade da Prevent Senior, poderia ter melhorado caso tomasse os medicamentos sem eficácia contra o vírus.O senador perguntou, então, se foi usado o coquetel na paciente. Pedro Batista Junior, no entanto, afirmou que não informaria dados de pacientes.
Foi nesse momento que Randolfe mostrou o prontuário da mãe de Hang, onde estavam prescrito os remédios ineficazes, e Pedro Batista Junior alegou que o prontuário mostrado não é completo.
CPI da COVID convoca empresário Luciano Hang a prestar depoimento
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID, que investiga ações e omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia, aprovou nesta quinta-feira (23/9) a convocação do empresário Luciano Hang para prestar depoimento na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. A oitiva de Hang está marcada para 10h da próxima quarta-feira (29/9).
O pedido foi feito pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), durante a sessão com a presença de Danilo Trento, sócio da Primarcial Holding e Participações.
"Estamos nos encaminhando para a reta final da Comissão Parlamentar de Inquérito. Há um depoimento que venho insistindo e considero muito importante, que é o do empresário Luciano Hang. Seria importante para essa relatoria que pudéssemos marcar. Peço a vossa excelência, com a Comissão Parlamentar de Inquérito, nesse propósito. Ele é um empresário importante no Brasil, membro destacado do gabinete paralelo, e temos conversas dele que são absurdas sobre qualquer contexto. É importante trazê-lo até o fim dos nossos trabalhos. Se vossa excelência especificasse um dia, ficaria muito grato", afirmou Renan, solicitando o pedido ao presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).
Para Omar, a oitiva do empresário será essencial para esclarecer pontos importantes na investigação do ‘gabinete paralelo’, responsável por orientar a população a aderir à medicamentos sem eficácia comprovada.
"Ele, como um patriota brasileiro, e faz questão de mostrar isso em suas redes sociais e participou ativamente nas discussões de tratamento precoce, certamente ficará feliz em vir à CPI contribuir com a investigação para que a gente possa ver o que ocorreu para chegar às 600 mil mortes", afirma Aziz.
Um dos apoiadores mais assíduos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Hang é dono das lojas Havan e financiou boa parte da campanha do chefe do Executivo rumo ao Palácio do Planalto. Desde então, aparece frequentemente na mídia defendendo as ideias de Bolsonaro, como o uso de cloroquina para tratamento da COVID, uso de armamentos e é presença constante em atos e manifestações onde o presidente participa.
FONTE: CNN BRASIL/ESTADÃO DE MINAS
Bianca Viana
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