As negociações entre a Ucrânia e a Rússia começaram na região de Gomel, na fronteira da Bielorrússia com a Ucrânia, confirmaram os ministérios das Relações Exteriores de ambos os países.
Em um comunicado, a Ucrânia disse que seu objetivo para as negociações é um “cessar-fogo imediato e a retirada das tropas russas”. Sua delegação inclui vários funcionários de alto escalão, mas não o próprio presidente, Volodymyr Zelensky. A delegação é liderada pelo ministro da Defesa, Oleksiy Reznikov, que está acompanhado pelo alto conselheiro da Presidência, Mikhailo Podoliak.
O Kremlin se recusou a comentar sobre seu objetivo nas negociações, mas o negociador russo Vladimir Medinsky disse que a Rússia quer chegar a um acordo que seja do interesse de ambos os lados.
O presidente ucraniano declarou ter pouca esperança de que a reunião ponha fim ao conflito, que, segundo o seu governo, já matou mais de 350 civis desde o início da invasão.
Mas, acrescentou, eles devem tentar usar essa chance, mesmo que seja pequena, para que ninguém possa culpar a Ucrânia por não tentar impedir a guerra.
Quando sinalizou aceitar negociações, a Rússia mostrou pouco interesse em diminuir seus ataques. O Kremlin inicialmente impôs a desmilitarização e a “desnazificação” da Ucrânia como condições para um acordo. Moscou argumenta, de modo falso, que o governo ucraniano é composto por nazistas; Zelensky é judeu.
Na prática, essas condições sugeridas por Moscou significariam uma rendição de Kiev. Posteriormente, acabou aceitando negociar, supostamente sem pré-condições.
Moscou afirma que deseja discutir um "acordo" com Kiev durante o diálogo desta segunda-feira, no momento em que a invasão parece encontrar mais resistência.
— Cada hora que o conflito se prolonga, cidadãos e soldados ucranianos morrem. Nós nos propusemos a chegar a um acordo, mas tem que ser do interesse das duas partes — declarou o negociador russo e conselheiro do Kremlin, Vladimir Medinsky.
A Bielorrússia, onde as negociações acontecem, é uma forte aliada russa e se tornou uma plataforma de lançamento dos soldados russos que invadem a Ucrânia. Um referendo no domingo — embora não haja um sistema eleitoral independente no país — aprovou reformas constitucionais que incluem abandono de status de país não nuclear.
As conversas começaram enquanto o Exército ucraniano e cidadãos voluntários lutam para repelir avanços russos em várias cidades pelo quinto dia de batalhas.
As forças ucranianas, agora recebendo o tipo de assistência militar do exterior que seu líder pede desde antes da invasão, tem representado mais resistência do que o Exército russo parecia esperar, apesar de estarem em desvantagem em termos de soldados e de equipamentos.
A resposta liderada pelo Ocidente à invasão foi abrangente, com sanções que efetivamente cortaram as principais instituições financeiras de Moscou de sucessivos mercados ocidentais, fazendo com que o rublo da Rússia caísse 30% em relação ao dólar nesta segunda-feira.
Explosões foram ouvidas antes do amanhecer na capital Kiev e em Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana, a 65 quilômetros da fronteira com a Rússia. Mas as tentativas das forças terrestres russas de capturar os principais centros urbanos foram repelidas, acrescentaram autoridade ucranianas.
O Ministério da Defesa da Rússia, no entanto, disse que suas forças tomaram as cidades de Berdyansk e Enerhodar, na região de Zaporizhzhya, no Sudeste da Ucrânia, bem como a área ao redor da usina nuclear de Zaporizhzhya, informou a Interfax. As operações da planta continuam normalmente, disse.
A Ucrânia negou que a usina nuclear tenha caído em mãos russas, segundo a agência de notícias.
Houve combates ao redor da cidade portuária ucraniana de Mariupol durante toda a noite, disse Pavlo Kyrylenko, chefe da administração regional de Donetsk, na televisão na segunda-feira. Ele não disse se as forças russas ganharam ou perderam terreno ou forneceu números de baixas.
Poucas horas antes do encontro, o secretário do Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, apurou que a Santa Sé "está disposta a facilitar a negociação entre a Rússia e a Ucrânia".
Além da negociação na Bielorrússia, a Ucrânia faz esforços em outras frentes. O bilionário russo Roman Abramovich, dono do Chelsea, clube da Premier League, aceitou um pedido ucraniano para ajudar a negociar o fim do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, disse sua porta-voz. Ele não integra a delegação diplomática. Segundo um comunicado, "Abramovich foi contatado pelo lado ucraniano para obter apoio para alcançar uma resolução pacífica e ele vem tentando ajudar desde então".
Abramovich age também em interesse próprio, pois sanções podem ser impostas contra oligarcas russos como ele, com o interesse de pressionarem o governo russo.
Walton Carvalho
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