O governo nomeou o ex-chefe do Procon de Pernambuco para dirigir o Dnocs, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, que tem um orçamento de R$ 1 bilhão. O senador Ciro Nogueira e o deputado Arthur Lira, do PP, indicaram o nome dele em troca de apoio a Jair Bolsonaro.
As primeiras reuniões do presidente Jair Bolsonaro e ministros com parlamentares do chamado Centrão ocorreram no início de março. Foram pelo menos 17 encontros. Presidentes e líderes do PP, Republicanos e PL, entre outros partidos, estiveram no Palácio do Planalto.
O Centrão já participou da base de outros governos, como de Dilma Rousseff e Michel Temer, muitas vezes trocando apoio por cargos.
Nesta quarta-feira (6), o Diário Oficial trouxe a nomeação de Fernando Marcondes de Araújo Leão para a direção geral do Dnocs, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. A portaria foi assinada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto.
Com um orçamento anual de mais de R$ 1 bilhão, o Dnocs faz parte do Ministério do Desenvolvimento Regional. Toca obras de irrigação, construção de açudes, reservatórios, barragens e perfuração de poços artesianos, principalmente no Nordeste.
O ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, disse que a indicação saiu do Palácio do Planalto, da Secretaria de Governo, do ministro Luiz Eduardo Ramos, depois de uma avaliação técnica.
Mas no Congresso há o consenso de que a escolha de Fernando Araújo foi de um dos partidos do Centrão, o Partido Progressista, num acordo com o Partido Avante, ao qual Fernando Araújo é filiado.
Com essa indicação, o PP já quer garantir o apoio do Avante para a eleição para presidência da Câmara, em fevereiro de 2021. E depois de indicar um nome para o Dnocs, o PP quer garantir agora o comando do FNDE, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
Ciro Nogueira é réu num processo da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Arthur Lira é réu em dois processos no Supremo, um deles o mesmo do senador Ciro Nogueira.
Fernando Marcondes de Araújo foi do Departamento de Estradas de Rodagem de Pernambuco, secretário executivo de Transportes do estado e desde março de 2019 era coordenador-geral do Procon de Pernambuco. Fernando Marcondes era do PTB e se filiou ao Avante no dia 9 de março.
Atraindo o Centrão, o presidente Jair Bolsonaro, que já criticou o que chamava de velha política, o toma lá da cá, quer agora formar um bloco de apoio no Congresso para tentar aprovar projetos de interesse do governo e evitar a abertura de um eventual processo de impeachment. Política criticada por parlamentares que já estiveram ao lado dele.
“É importante que o governo tenha apoio no Congresso, mas esse apoio precisa ser construído sob a base de convencimento do que é bom para o Brasil, e não pelo toma lá da cá. Se for assim, vai ser muito ruim”, avalia o deputado Marcel Van Hattem, do Novo.
O deputado Arthur Lira não quis comentar. Nós não tivemos resposta nem do senador Ciro Nogueira nem do Palácio do Planalto.
Bianca Viana
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