Pesquisadores de universidades federais do Tocantins encontraram seis variantes do novo coronavírus (Sars-CoV-2) circulando no Estado. Uma delas havia sido detectada no Rio de Janeiro em dezembro e outra em Manaus (AM), que está associada a uma maior transmissibilidade, revelou a Universidade Federal do Tocantins (UFT).
Divulgada na última quarta-feira (10/3), a pesquisa foi realizada pela UFT, por meio do Laboratório de Bioinformática & Biotecnologia (Labinftec), em colaboração com a Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT) e o Laboratório de Baculovírus da Universidade de Brasília (UnB).
De acordo com o relatório, as seis amostras coletadas em fevereiro deste ano foram obtidas de participantes do projeto Monitoramento do nível de infecção ativa por Covid-19 e fatores epidemiológicos associados nos três principais centros urbanos do Estado do Tocantins, coordenado pelo professor da UFNT José Carlos Ribeiro Júnior. As amostras usadas na pesquisa foram coletadas em Araguaína (TO).
Segundo o virologista e professor da UFT Fabrício Souza Campos, nessa pesquisa, primeiro foi realizado o diagnóstico do novo coronavírus em 500 moradores de Araguaína pelo professor Ribeiro Júnior. “Com os resultados das amostras positivas em mãos, selecionamos aquelas com maior carga viral para o sequenciamento, que foi realizado na UnB, no Laboratório de Baculovírus, coordenado pelo professor Bergmann Ribeiro e com o auxílio do professor Fernando Melo”, explicou Campos.
“Após o sequenciamento, a montagem dos genomas e análises foi realizada pelo pesquisador do Labinftec Ueric José Borges de Souza, que demonstrou a circulação de quatro variantes diferentes em seis genomas de Sars-CoV-2 tocantinenses”, completou.
As variantes que circulam no Tocantins detectadas até o momento são iguais a outras encontradas em outros Estados brasileiros. Entretanto, esse monitoramento é de extrema importância, pois, segundo o pesquisador, se ficar provado que determinada variante é mais transmissível ou provoque um escape vacinal, medidas adicionais de controle devem ser implementadas, além do uso de vacinas que combatam especificamente tal variante.
Para Campos, são necessários esforços e monitoramento dessas variantes. “Assim fica clara a necessidade de somarmos esforços entre as universidades, Lacen e a Secretaria de Saúde para monitorar a circulação dessas variantes em Tocantins”, frisou.
Estudos preliminares demonstram que a variante P1, por exemplo, apresenta uma maior capacidade de transmissão. “Isso reforça a necessidade dos cuidados básicos da população como uso de máscaras, assepsia das mãos com álcool e o distanciamento físico. Como a vacinação está atrasada devemos evitar a circulação do vírus com essas medidas não farmacológicas. O País está se tornando um viveiro de variantes, que podem ocasionar um escape vacinal, tornando as vacinas atuais ineficazes”, revelou o pesquisador.
Campos destacou também que é importante diferenciar variante e de linhagem do vírus. Variante é a parte isolada do vírus cuja sequência do genoma difere daquela de um vírus de referência. Já uma linhagem é um conjunto de variantes que se originaram de vírus ancestral comum. Quando você um tem um braço que fica mais distante dos outros genomas, ele se torna uma nova linhagem.
“Todos os vírus fazem muitas mutações, principalmente os vírus RNA, embora os coronavírus possuam uma atividade de correção. Quando se fala em uma nova linhagem, significa que houve mutações suficientes nesse vírus para que ele se tornasse uma nova linhagem. Assim, a caracterização genômica dessas variantes de Sars-CoV-2 permite compreender o tipo de vírus que está circulando em determinada região”, esclareceu o pesquisador.
Vacinas devem ser adaptadas para as novas variantes
Em vista do surgimento de diferentes variantes do coronavírus, pesquisadores apontam que a atual prioridade para combater essas mudanças do vírus não deve ser o desenvolvimento de uma nova vacina, mas a adaptação rápida de um imunizante já disponível no mercado.
O farmacêutico do Ministério da Saúde e professor da pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Rafael Poloni, explica a natureza do vírus para contextualizar o quanto ela reflete nas variações e defende o formato das vacinas com fácil adaptação para combatê-las.
“Os vírus são microrganismos altamente mutáveis, ou seja, passíveis de alterações, naturais ou induzidas, em seu material genético. Ocorre que, com essa alta facilidade de mutação, imprevisível quando se estabelece uma vacina, esse procedimento imunogênico pode tornar-se falho. Então, é preferível que as vacinas tenham seu desenvolvimento com fácil adaptação, para que, se necessário, sejam reformuladas a cada lote de mutações, cepas resistentes a essa vacina”, esclarece.
Poloni enfatiza que, além da vacina para combater o vírus e suas variantes, os protocolos de segurança devem ser seguidos com rigor, para assim reduzir a incidência de casos de Covid-19 e até mesmo um colapso na saúde.
“A vacina é um grande benefício para saúde pública, entretanto, as medidas de controle devem ser ainda intensificadas, haja vista que não há, neste momento, vacina para toda a população. Então, para a saúde pública não entrar em colapso, evitar altas taxas de transmissão do vírus e novas variantes, há a necessidade do uso de máscaras, distanciamento social, lavar sempre que possível as mãos e utilizar álcool 70%”, recomenda o farmacêutico.
Fellipe Portela
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