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  01:35

Andorinhas do Caribe são registradas pela primeira vez no Brasil na cidade de Patos do Piauí

Até o momento, pesquisadores sabiam que as espécies são consideradas migratórias, porém não havia registros de para onde elas se deslocavam.

 

Pela primeira vez, o Brasil registrou a presença de duas espécies de aves migratórias das espécies andorinhas-do-caribe (Progne dominicensis) e andorinhas-cubanas (Progne cryptoleuca). As imagens feitas no dia 3 de janeiro em Patos do Piauí, 409 km ao Sudeste de Teresina, foram feitas pelo observador de aves Eudes Feitosa, e ganharam as redes sociais.

A presença delas na região, segundo pesquisadores, requer proteção à revoada, que provavelmente vai ficar ali por um ou dois meses. Até o momento, pesquisadores sabiam que as espécies são consideradas migratórias, porém não havia registros de para onde elas se deslocavam.

Especialistas cubanos implantaram em algumas aves microtransmissores capazes de traçar o caminho percorrido pela espécie e, assim, descobriram que os bandos passavam por algumas regiões do Brasil, como Piauí, Maranhão e Pará. Até agora, contudo, não havia registros em imagens dessa passagem pelo país. O observador Eudes Feitosa ressaltou ao g1 a importância dos registros.

"O que posso falar é que é um verdadeiro espetáculo no céu piauiense. Fico feliz por ter sido privilegiado com o espetáculo. Não podia deixar a população e os órgãos sem o conhecimento e o valor da observação de aves" , ressaltou o observador.

Primeiro registro no país

Andorinhas cubanas registradas em Patos do Piau  Foto: Eudes da Silva Feitosa

Por andar em bandos junto com outras andorinhas, as espécies nunca haviam sido registradas no Brasil. Após fotografar o bando na região da Comunidade Cajueiro, Zona Rural de Patos, Eudes divulgou as imagens em grupos de observadores de aves, onde alguns participantes conseguiram identificar que naquele bando havia espécies diferentes.

Ainda não foi possível determinar quando as espécies chegaram ao Piauí, mas de acordo com os pesquisadores, o bando saiu da América Central por volta de setembro de 2021 e a estimativa é de que fiquem na região até março, quando farão a viagem de volta para o Caribe.

De acordo Pablo Cerqueira, biólogo e guia de observação de aves, a partir de agora, os pesquisadores terão mais informações a respeito do comportamento dos bandos na região.

"O período que elas ficam descansando no Piauí a gente ainda não sabe. A gente sabe que elas saem de lá por volta de setembro e ficam aqui até o final de fevereiro e março. Então, o período total que elas ficam no Piauí a gente vai começar a saber agora, já que sabemos onde estão", explicou Pablo.

Comportamento das aves migratórias

O professor e biólogo Anderson Guzzi explicou também que, durante o verão no Hemisfério Norte, as aves migratórias se reproduzem e com a chegada do inverno migram para o Hemisfério Sul.

Já na região, os bandos descansam, se alimentam, trocam as penas e se preparam para voltar. De acordo com o professor, as andorinhas fazem uma viagem de cerca de 7 mil quilômetros para voltar ao Caribe.

O professor explica que por se tratar de aves migratórias, elas não pertencem a apenas um país, sendo moradoras de todas as rotas que percorrem durante esse processo.

"É considerado área natural delas o local onde elas se reproduzem, então independente da espécie, o local onde elas se reproduzem é a área de ocorrência natural delas. Aqui no Brasil, no caso dessas andorinhas [encontradas em Patos] que estão vindo da região do Caribe, podem ser consideradas Visitantes do Norte", disse.

Além das duas espécies de andorinhas, segundo o professor, as aves das famílias Charadriidae (maçaricos) e Scolopacidae (narcejas) encontradas no Hemisfério Norte também usam o Piauí como rota de descanso durante o processo de migração.

Desequilíbrio na fauna

Andorinhas do caribe registradas em Patos do Piau  Foto: Eudes da Silva Feitosa

De acordo com observadores de aves, o único fato que aponta para o desequilíbrio na fauna é o fato do bando ter decido "descansar" na quadra poliesportiva da Comunidade Cajueiro em vez de buscar abrigo na mata. Mas ainda segundo os observadores, a adaptação ao ambiente migratório é uma característica das espécies.

"Existe um desequilíbrio em Patos, que obrigou elas a procurarem abrigo dentro de uma estrutura artificial e não dentro de uma estrutura natural como elas são habituadas. Mas isso é uma coisa antiga, não é uma adaptação nova. Elas já usam dessa adaptação há muito tempo. É um desequilíbrio, mas elas já se acostumaram e já estão superando. Se a gente não mexer com elas, elas vão cumprir a migração delas usando esse poleiro artificial" , explicou o fotógrafo e observador de aves Alexander Galvão.

Proteção

Com o alerta dos observadores e pesquisadores, a prefeitura municipal resolveu fechar por tempo indeterminado a quadra poliesportiva onde as aves estão descansando. Em nota divulgada nas redes sociais, a gestão informou a importância das espécies na região e buscou sensibilizar a comunidade local.

Bianca Viana

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