A aposentada Maria Nerci foi condenada a 19 anos de prisão por ter matado a filha, a advogada Izadora Mourão, de 41 anos. O irmão da vítima, João Paulo Mourão, foi absolvido pelo Tribunal Popular do Júri. Maria Nerci foi condenada por homicídio triplamente qualificado e cumprirá prisão domiciliar por ser responsável por um filho que tem deficiência.
O julgamento aconteceu durante todo a quarta-feira (16), no Fórum de Pedro II. Testemunhas de acusação e de defesa foram ouvidas durante mais de 14 horas de sessão.
Maria Nerci foi condenada a 19 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado. Ela havia sido acusada de fraude processual e como coautora do assassinato. Ela irá cumprir a pena em prisão domiciliar, por conta de sua idade e condição de saúde, e porque cuida de seu filho mais velho, que tem deficiência física e psicológica.
João Paulo havia sido acusado por homicídio triplamente qualificado, mas foi absolvido. Um alvará de soltura deve ser expedido na manhã desta quinta-feira (17), e ele será liberado. João Paulo estava preso há um ano e um mês.
JULGAMENTO
A aposentada Maria Nerci voltou a confessar que matou a facadas a própria filha, a advogada Izadora Mourão, durante depoimento no Tribunal do Júri nesta quarta-feira (16), em Pedro II. A mãe e o filho João Paulo Mourão são acusados do crime ocorrido no dia 13 de fevereiro de 2021.
A audiência teve início às 7h30 e deve se estender por todo o dia. João Paulo foi indiciado por homicídio triplamente qualificado e Maria Nerci foi indiciada como coautora do crime e por fraude processual.
Em depoimento, Maria Nerci contou que a filha chegou em sua casa por volta das 7h para tomar café da manhã. A advogada estava com dor de cabeça, tomou um remédio e foi se deitar na cama do irmão João Paulo Mourão.
Segundo a mãe, antes de dormir Izadora pediu dinheiro para pagar a prestação de um móvel e ao se recusar foi ameaçada pela filha.
Maria Nerci confessa que matou a filha Izadora Mourão durante depoimento em Pedro II — Foto: Reprodução
"A Izadora começou a me chamar de velha miserável e cardíarca. Ela falou que iria tomar as providências para cancelar minha aposentadoria. Eu pedi pra ela não fazer isso e perguntei do que eu iria viver e a Izadora me respondeu que não sabia. Em seguida tomou o remédio e foi se deitar", contou a acusada.
De acordo com Maria Nerci, João Paulo passou a noite fazendo trabalho da faculdade e mandou o filho dormir no quarto dela, porque Izadora estava dormindo na sua cama. A acusada contou que nesse momento foi até onde estava a filha e a mesma estava em sono profundo.
"Eu me lembrei que ela falou que ia me matar. Fui com a faca e dei o primeiro golpe muito forte e saiu bastante sangue. A Izadora tentou tomar a faca, mas continuei golpeando. Matei ela sozinha, sem ajuda", disse a aposentada.
A acusada declarou arrependida pelo crime, mas alegou ter agido em legítima defesa, e que não confessou o crime durante a prisão de João Paulo porque não teve coragem.
"Eu me arrependo do que eu fiz, mas se eu não tivesse feito, ela teria feito comigo", declarou.
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Acusada guardava faca
Maria Nerci informou ter o costume de guardar as facas da casa dentro do fogão e na última gaveta do armário. No julgamento, a acusada disse que usou uma faca branca para cometer o crime e depois lavou com água e sabão.
Ao ser questionada pelo promotor, a aposentada informou que lavou uma faca marrom e mandou para a casa da irmã, mas depois pediu para João Paulo pegar a faca e ele entregou ao advogado da família.
Mãe nega brigas entre os filhos
A acusada negou que Izadora Mourão era ameaçada e desconhece uma carta escrita por João Paulo para a irmã. Segundo ela, os filhos não brigavam e negou problemas por heranças.
"A única fez que João Paulo reclamou com Izadora foi porque ela apagou os contatos do celular do irmão. Ela não gostava das pessoas e fez isso", disse.
Autoria do crime
Advogada Izadora Santos Mourão, de 41 anos, é encontrada morta dentro de quarto em Pedro II — Foto: Reprodução
A primeira testemunha a depor foi Vanessa da Conceição Fabrício, prima da vítima. Em seguida, o agente João Paulo Moura, do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), que investigou o crime, foi ouvido no julgamento.
O agente João Paulo Moura, do DHPP, afirmou ser impossível que o crime tenha sido cometido apenas por Maria Nerci, como alega a defesa de João Paulo. "Pela dificuldade que ela tem de locomoção e pela força que a Izadora aparentava ter", disse.
A investigação apontou que a motivação para o crime foi a disputa pelos bens deixados pelo pai de Izadora e João Paulo, ex-marido de Maria Nerci. Tese acolhida pelo Ministério Público.
A testemunha disse que após separar-se do marido, Izadora quis ter mais participação na herança. "Pelo que percebemos, a mãe e o irmão estavam impedindo. Eles queriam vender um carro do pai e ela não queria", disse.
"Uma das mensagens que tinha no celular dela falava de um dinheiro que ela emprestou e que ele [João Paulo] precisava pagar dívidas do escritório dela, porque havia mandado fazer uns móveis", relatou o policial.
O namorado de Izadora, Marcos Antônio Viana, foi a terceira testemunha a ser ouvida. Depois dele, o Júri ouviu o depoimento da perita responsável pela perícia do caso e, em seguida, foi a vez do delegado Danúbio Dias prestar depoimento.
Polícia questiona versão da defesa
A Polícia Civil divulgou um vídeo animação e questionou a versão da defesa de João Paulo. O vídeo produzido indica que o advogado e a mãe, Maria Nerci, atuaram juntos no assassinato.
O delegado Francisco Barêtta, coordenador do DHPP, disse que o crime foi premeditado e que a negativa da participação de João Paulo é uma estratégia da defesa já que a mãe possui mais de 70 anos e, se condenada, deve ter a pena reduzida em função da idade, conforme previsto no código penal.
"A sociedade de Pedro II tem que saber a responsabilidade que eles têm de mandar esses indivíduos para a cadeia. Porque é um crime hediondo, um crime repugnante que não pode ficar impune. Não pode haver só uma cobrança em cima da polícia. A responsabilidade é de todos, segurança é um direito de todos e um dever do estado", disse o delegado Barêtta.
Para o promotor Márcio Carcará, as provas produzidas pela Polícia Civil indicam que mãe e filho participaram tanto do assassinato como do planejamento do crime. Segundo o promotor, Izadora foi assassinada por conta de uma disputa pelos bens deixados pelo pai dela e João Paulo, ex-marido de Maria Nerci.
FONTE: G1 PIAUÍ
Bianca Viana
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