A Rede Clube teve acesso, com exclusividade, a vídeos que mostram o promotor Maurício Verdejo Gonçalves Junior e o assessor ministerial André Ricardo Bispo Lima, acusados de exigir de um empresário o valor de R$ 2 milhões para arquivar uma investigação contra ele, negociando e recebendo o pagamento da propina.
Nas imagens, é possível ver e ouvir o promotor convidar o empresário para ingerir bebida alcoólica e celebrar arquivamento do caso (assista acima). Veja o que dizem as defesas dos acusados ao fim da reportagem.
"Vou pegar tudo e vou fazer a análise, falo que não tem nada e pronto. Quando passar dessa fase 'vamo' tomar uma para comemorar", diz o promotor.
Os vídeos fazem parte da investigação da Polícia Federal (PF), que começou após o empresário parnaibano Junno Pinheiro denunciar ter sido abordado pelo promotor em uma restaurante em Barra Grande, no município de Cajueiro da Praia, litoral do estado.
O promotor teria dado o prazo de poucos dias para o empresário pagar a quantia de R$ 2 milhões para não ser mais investigado no âmbito da Operação "Jet Ski", do MPPI, deflagrada contra irregularidades em contratos de locação de equipamentos hospitalares feitos sem licitação com a extinta Fundação Estadual de Serviços Hospitalares (Fepiserh).
A PF acionou o MPPI, devido ao promotor contar com foro de prerrogativa de função, e os órgãos se uniram para apurar a denúncia. "No âmbito da subprocuradoria nós instauramos um procedimento investigatório criminal", informo o subprocurador-geral de Justiça, João Malato"Ouvimos a vítima novamente para apurar se realmente a denúncia era factível e a ela nos contou com riqueza de detalhes a forma como tinha sido feita a abordagem. Inclusive, durante a oitiva dessa vítima, o promotor investigado mandava mensagens via whatsapp já marcando o encontro dizendo que eles tinham que se encontrar para resolver o negócio o mais rápido possível", contou o subprocurador-geral.
A investigação da PF durou cerca de uma semana. Durante esse período, o órgão conseguiu junto à Justiça permissão para poder registrar, com áudio e vídeo, os encontros do empresário com os acusados.
Diálogos gravados
As imagens mostram a entrega de dois pagamentos, em um condomínio de luxo em Teresina, onde o promotor mora. No primeiro encontro, houve a entrega de R$ 500 mil e, segundo a PF, o acusado explicou como funcionaria o esquema.
"O principal pra gente fazer é tirar tudo lá do GAECO, inclusive seus bens que estão lá. Vou pedir tudo pra mim e depois eu vou te devolver tudo", afirmou.
O segundo pagamento, cinco dias depois, aconteceu dentro da casa do promotor. Os vídeos obtidos pela PF mostram a conversa e o acusado tranquilizando o empresário quanto à investigação.
"Você está falando comigo direto ou seja não tem preocupação de nada porque agora a gente encerrou", diz o promotor no vídeo.
O registro mostra ainda o promotor dar instruções para o assessor, André Ricardo, que presencia a negociação.
"André, a gente vai botar você pra falar com o advogado dele ai você vai ser tipo uma pessoa que é amigo dele", diz Maurício Verdejo.
Apreensão de dinheiro
Após os registros, a PF solicitou à Justiça o cumprimento do mandado de busca e apreensão que foi cumprido na casa do promotor, ocasião em que foram apreendidos R$ 896 mil em dinheiro. Para o órgão, há indícios suficientes para comprovar a conduta dos acusados.
"A gente fica espantado, mas, ao mesmo tempo, sai com a sensação de que ninguém está acima da lei. As pessoas que praticam crime, independente das funções que elas exerceção, da prerrogativa que tenham, podem, diante do encontro de elementos, ser responsabilizadas", afirmou Ezequias Martins, delegado regional executivo da PF no PI.
O assessor André Lima, lotado na 1ª Promotoria de Justiça de Bom Jesus, foi exonerado do Ministério Público do Piauí e o promotor Verdejo foi afastado temporariamente, pelo prazo de 90 dias, de suas funções após determinação da Corregedoria Nacional do Ministério Público, no dia 9 de agosto.
"Vamos envidar todos os esforços para que seja punido exemplarmente porque o MP é defensor da sociedade é inadmissível que no seu seio tenha um agente que compactue com a corrupção", declarou o subprocurador-geral do MPPI, João Malato.
Os acusados estão em liberdade, com algumas medidas cautelares como a proibição de acessar e frequentar as instalações do MPPI; de se se comunicarem entre si, com o empresário e com quaisquer servidores do MPPI.
Na segunda-feira (2), o Ministério Público denunciou os dois pelos crimes de concussão, prevaricação, supressão de documento e tráfico de influência. O caso ainda será julgado pela Justiça.
O que dizem as defesas
Procurada pela Rede Clube, a defesa do promotor Maurício Verdejo informou que só vai se pronunciar nos autos do processo.
A defesa do ex-assessor André Bispo disse que prefere se manifestar após ter conhecimento do teor da denúncia proposta pelo subprocurador do Ministério Público, “oportunidade em que, demonstrará, perante a sociedade e o poder judiciário, que não teve qualquer participação nos eventos apurados e amplamente divulgados na mídia”.
Fonte: G1
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