
O “Boa Noite” soa com num tom de intimidade. Aquela voz não é estranha. Parece que já a ouvimos muitas vezes. E já mesmo. A voz parte de um homem alto, cabelo caracolados longos, pinta de galã e que se delicia com uma taça de vinho. Ele é Fernando Mendes, que antes de subir ao palco do Festival Gastronômico de Campo Maior recebe a equipe do Em Foco para uma entrevista.
Muito mais que uma entrevista. A experiência de 45 anos de carreira dá autonomia para o autor dos sucesso “Cadeira de Rodas” e “Menina da Plateia” tornar aquele momento uma conversa agradável, repleta de risos e de boas histórias. A entrevista tornou-se um bate-papo que parecia de velhos amigos que só é interrompida com o pedido da produção para que o cantor se apronte para iniciar o show.
Fernando Mendes conversa sobre o início da carreira e o gosto pelas músicas de Roberto Carlos e Martinho da Vila. Ele critica artistas que fizeram sucesso com as músicas censuradas pela Ditadura Militar, fala sobre o medo do futuro no que diz respeito a política e comenta sua amizade com o governador Wellington Dias e sua visão do Piauí e do nordeste.
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Fernando, 45 anos de carreira. De onde veio tanta inspiração?
Eu num sei se tem inspiração. Alguém disse que eu cantava. Eu pegava o violão cantava as músicas do Roberto Carlos, Martinho da Vila. Agora, falar assim ele é cantor, nunca tinha ouvido falar. Quando cheguei no Rio de Janeiro que Miguel dos Ferevers me viu cantando a desconhecida aí ele disse ‘olha você vai fazer um teste amanhã’. Esperei seis meses. Aconteceu tudo naturalmente que eu nem percebi. Quando percebi já estava em primeiro lugar.
Qual o sentimento de ver pessoas dessa nova geração cantando suas músicas que fizeram sucesso no passado?
Nós olhamos da mesma forma o de hoje e o de ontem. O artista não vai separar o de hoje e o de ontem. Eu sou de hoje e sou de ontem também (risos). É tudo no mesmo tempo.
Você teve algumas músicas censuradas pela Ditadura Militar naquele período de conturbação nacional. Como você observa o cenário da política atual?
Um cara que vem de uma cidade (Conselheiro Pena-MG) de 17 mil habitantes sabe o que é política? Se eu fosse preso perguntaria ‘o que é que está acontecendo?’, não entendia. Eu perguntava ‘porque proibiram?’. Aí diziam ‘sua música não pode mais tocar no rádio. É porque em sádico poeta você diz “quero te comer como um antropófago”, e eles não gostaram do antropófago’. Eles quem? Não entendia nada daquilo, mas tudo bem. Pra mim não fazia diferença porque eu não entendia. Não tem nada desse período que eu pudesse dizer que foi horrível que me proibiram. Como tem alguns, como dizem, que aproveitaram isso pra fazer sucesso. Não é a minha, não.
E o cenário político atual?
Eu vejo o medo do futuro. Nunca me preocupei com isso (política). Agora eu digo ‘pera aí’. Acho que Caetano (Veloso) tem razão (de ter medo do futuro).
Sua visão do estado do Piauí?
Pra começar o governador é meu amigo, meu fã. O Piauí, o nordeste, desde o início da carreira a gente fica mais no nordeste do que qual outro lugar. É um campo muito bom. O Roberto Carlos passou dois anos sem fazer show. O primeiro lugar que ele foi – poderia ter sido no Rio de Janeiro, no Espírito Santo, terra dele, São Paulo, não – ele foi em Recife e em Campina Grande. O nordeste é um mistério (risos).
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