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O Bispo da Diocese de Campo Maior, Dom Francisco de Assis Gabriel emitiu uma carta aberta neste sábado (27) onde segue o mesmo posicionamento da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que, nas entrelinhas, alertou sobre a ameaça que a democracia brasileira vem sofrendo e pediu que os fiéis votem defesa da vida e diga não às formas brutais de violência geradas na intolerância.
CARTA ABERTA PELA DEMOCRACIA
Dom Francisco de Assis Gabriel, CSsR
Bispo de Campo Maior PI
“Devemos implicar-nos na política, porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, visto que procura o bem comum”, Papa Francisco.
Tempos difíceis. Grande polarização com reações cheias de ódios, agressões e intolerância. Após a retomada da democracia, não houve pleito eleitoral com essas características. O segundo turno das eleições presidenciais mostra um país novamente dividido e isso exige da Autoridade a ser eleita mais habilidade para o diálogo dentro da pluralidade cultural das sociedades contemporâneas.
Democracia é o campo político do divergente, do contraditório. Ferir o regime democrático é querer uma hegemonia, um pensamento único e com isso, tratar o adversário ideológico como inimigo a ser combatido inclusive pela repressão. Atitudes assim são totalitárias. Nossa jovem democracia conta trinta anos desde a promulgação da Carta Magna, Constituição Cidadã de 1988, foi colocada em crise.
As instituições democráticas não estão em pleno e sadio funcionamento, como dito.
O cidadão-eleitor brasileiro deve ir às urnas e registrar seu voto com inteira liberdade. A lei eleitoral garante um tempo para o embate das ideias, apresentação de projetos de governo e possibilidade para os eleitores analisarem os candidatos quando confrontados. Aquele que governa, o faz sob pressão, há que ter o equilíbrio necessário e a grandeza de caráter para lidar com o contraditório. Para o eleitor é importante avaliar essa habilidade naqueles que almejam cargos majoritários dentro do regime democrático.
Desta eleição, o cidadão- eleitor sai confuso, pela ausência de debates no campo das ideias; pois, pela primeira vez vemos campanha eleitoral que preferiu a utilização dos recursos das redes sociais aos meios tradicionais, como rádio e televisão. As "fake News", como em outros países, fizeram a diferença e contribuíram para maior despolitização e crescente revanchismo.
Vá às urnas, neste dia 28 de outubro. Votar é um exercício de cidadania e acompanhar o pós-eleição é a outra face da mesma moeda.
“Na missão de pastores e profetas, nós, bispos católicos, ao assumirmos posicionamentos pastorais em questões sociais, econômicas e políticas, o fazemos, não por ideologia, mas por exigência do Evangelho que nos manda amar e servir a todos, preferencialmente aos pobres. Por isso, “a Igreja reivindica sempre a liberdade, a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76).
Não podemos nos calar quando a vida é ameaçada, os direitos desrespeitados, a justiça corrompida e a violência instaurada”. Nota da CNBB, 24 de Outubro de 2018.
Vote pela defesa da vida, da concepção ao seu declínio natural.
Vote pela defesa da vida e diga não às formas brutais de violência geradas na intolerância.
Vote pelo diálogo com a pluralidade cultural, fazendo valer a liberdade de expressão, sem abrir mão desse direito dentro do contraditório.
Vote pela defesa de políticas públicas, bem como por políticas que favoreçam à distribuição de renda e coloquem alimento na mesa dos mais pobres. "Quem tem fome tem pressa".
Vote pela defesa das cotas "raciais" nas universidades; no nosso país a concorrência cria uma multidão sem oportunidade.
Vote pela liberdade religiosa e pela possibilidade de continuar a exigir dos poderes públicos o respeito à doutrina cristã. Neste ponto não nos esquivemos: a defesa da fé cristã e da sua doutrina é a missão da própria Igreja. Pura ingenuidade acreditar que os partidos políticos vão erguer essas bandeiras.
Na política qualquer resultado acontece pela pressão e, diga-se, democrática.
Vote pelo diálogo com os países da América Latina e Caribe, a começar. Porém numa sociedade globalizada o mercado brasileiro não prospera sem convenções com os grandes mercados europeus e dos EUA.
Vote pela liberdade de expressão na sociedade plural. Mais uma vez lhe digo nesta pluralidade cultural, é a Igreja que deve ocupar seu lugar no mundo e num projeto de evangelização formar os leigos e leigas, "sal da terra e luz do mundo", para a vivência testemunhal da fé como discípulos missionários de Jesus Cristo na construção do Reino de Deus, "vida plena para todos".
Vote pela defesa dos investimentos em políticas públicas e pelo descongelamento desses gastos. Os mais pobres nunca devem pagar pelo desastre da corrupção. Vote por carga tributária mais baixa para os de menor poder aquisitivo, tendo como referência a renda.
Vote pela defesa da democracia.
Vote e resgatemos o equilíbrio e a unidade nacional. Vote pela defesa das instituições democráticas e pela normalidade democrática entre os poderes.
Bom voto. Viva a democracia.
+Francisco de Assis Gabriel Santos, CSsR
"Alegres na Esperança" (Rm 12,12)
Bispo diocesano de Campo Maior, Piauí. Brasil.
27 de Outubro de 2018
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