CHEIRO DE INFANCIA
Viajando esta semana pelo interior de meu estado, me vi de repente a menos de 60km por hora, com os vidros do carro abertos, sentindo entrar, pulmões a dentro, o ar que ainda é puro por aquelas bandas. A estrada sem muito movimento, a manhã recém nascida e eu com tempo de sobra para aproveitar a viagem.
Enquanto dirigia tranqüila, deixando o sol brincar sobre minha pele, mudando de lado, de acordo com as curvas sinuosas da estrada, permiti que os meus olhos apreciassem a paisagem verde, as árvores frondosas que acompanhavam o percurso, e aqui e ali algumas flores coloridas que davam um novo tom à paisagem por vezes acinzentada, que aparece de surpresa, em algum ponto dos dias de setembro. Pleno B-R-O-BRO...
De repente vi se aproximar uma casinha na margem esquerda, mais ou menos a uns cem metros de onde eu ia passar... (a sensação que eu tinha era como se eu estivesse parada e as coisas é que fossem passando por mim e não eu por elas...) ao chegar mais perto senti, vindo daquela casinha humilde, um cheiro bom de castanha assando. Deu vontade de parar. Vontade de ir lá pra ver a castanha ardendo e se transformando num alimento saboroso que, diga-se de passagem, castanha assada na lenha sobre uma bandeja de flande é muito mais gostosa do que aquelas assadas nos fornos industriais, que a gente compra nos sinais dos cruzamentos da capital.
Resisti ao desejo de parar, mas não consegui parar meu pensamento e viajei por dentro de mim, visitei o porão de minhas recordações e encontrei emoções ali guardadas, lembranças da infância, de minha vida tranqüila, sem preocupação ou medo, das férias na casa dos avós, das brincadeiras com os primos... Senti-me de novo criança, assando castanha no terreiro da casa, sem paciência de esperar que esfriassem para quebrar a casca e comer o seu conteúdo... a ponto de ficar com os dedos queimados com o leite ainda quente borbulhando da fruta, às vezes mal assada, pela pressa da uma criança inquieta que fui um dia.
Como pode um simples cheiro de castanha assando, desencadear tantas lembranças boas? Não sei, mas sei que aquela sensação boa de coisas leves me acompanhou pelo resto da viagem, que eu fiz sem perceber, pois quando me dei conta já havia chegado ao meu destino.
Mas a pessoa que chegou ali, era uma criança livre que vinha cantando as cantigas de sua infância e com o coração cheio da alegria e do prazer de ter sido feliz, e de ter tido a melhor família, os melhores avós, os melhores pais, os melhores irmãos, os melhores primos, as brincadeiras mais sadias, e a melhor infância que se pode ter.
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