VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Assim como como os grande filósofos se imortalizaram com suas frases geniais, como Sócrates em Só sei que nada sei; Shakespeare, Ser ou não ser; eis a questão e tantos outros que criaram suas máximas para a posteridade se valer delas diante de várias circunstâncias para dar vazão ao seu intento, Manuel Bandeira também deixou a sua máxima: Vou-me embora pra Pasárgada, onde comumente estamos a aludir essa expressão título quando menos esperamos ou queremos fugir de alguma situação difícil ou coisa semelhante.
Sobre belíssima obra, Bandeira assim se expressou:
..." foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] ... Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema " [...]
Escolhi este poema para dar continuidade na apresentação de alguns dos mais belos poemas de todos os tempos, da literatura brasileira.
Apreciemos, pois:
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa e demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
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