10 TRECHOS DA LITERATURA PARA NUNCA MAIS ESQUECER
A literatura no sentido estrito, é uma mina encantada, onde se extrai ouro na sua puríssima forma. À medida que você vai lendo, se descortina um mundo encantado à nossa frente, nos levando a paraísos numa dantes visitados. Essa é sem dúvida alguma, uma das “viagens” que nos propicia tal prática.
Trataremos de um trecho de obras importantes que lhe diz uma verdade ou traduz algo que você sente e não sabe exprimir ou gostaria de ter dito, a respeito de qualquer assunto: o amor, a amizade, a morte, o mistério deste mundo. Seja lá o que for: nada é completamente estranho aos escritores. É por isso que só escreve bem quem lê os mestres, porque para escrever bem é condição sine qua non ter os ouvidos educados, saber ler a entrelinhas. Segue uma amostra ínfima deste universo gigantesco de sabedoria.
Philip Roth, em O Animal Agonizante “Quando volto a olhar para ela, já vestiu a jaqueta outra vez. De modo que você compreende que a moça tem consciência de seu poder, mas não sabe direito como usá-lo, o que fazer com ele, não sabe nem mesmo até que ponto quer todo esse poder. O corpo ainda é novo para ela, a moça ainda o está experimentando, tentando compreendê-lo, é um pouco como um menino que anda na rua com uma arma carregada, sem saber se está armado para se proteger ou se para dar início a uma carreira no crime.” |
Marcel Proust, em Em Busca do Tempo Perdido “Assim, os que produzem obras geniais não são aqueles que vivem no meio mais delicado, que têm a conversação mais brilhante, a cultura mais extensa, mas os que tiveram o poder, deixando subitamente de viver para si mesmos, de tornar a sua personalidade igual a um espelho, de tal modo que a sua vida aí se reflete, por mais medíocre que aliás pudesse ser mundanamente e até, em certo sentido, intelectualmente falando, pois o gênio consiste no poder refletor e não na qualidade intrínseca do espetáculo refletido.” |
Herman Melville, em Moby Dick “Chamai-me Ismael. Há alguns anos — quantos precisamente não vem ao caso — tendo eu pouco ou nenhum dinheiro na carteira e sem nenhum interesse na terra, ocorreu-me navegar por algum tempo e ver a parte aquosa do mundo.” |
Graciliano Ramos, em Vidas Secas “Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.” |
Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas “Com minha brandura, alegre é que eu matava. Mas, as barbaridades que esse delegado fez e aconteceu, o senhor nem tem calo em coração para poder me escutar. Conseguiu de muito homem e mulher chorar sangue, por este simples universozinho aqui. Sertão. O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!” |
Cervantes, em Dom Quixote “Para que vejas, Sancho, o bem que encerra a andante cavalaria, e quão a pique estão os que em qualquer ministério dela se exercitam, de virem em pouco tempo a ser nobilitados e estimados do mundo, quero que sentes aqui ao meu lado e em companhia desta boa gente, e que estejas tal como eu, que sou teu amo e natural senhor, que comas no meu prato, e bebas por onde eu beber, porque da cavalaria se pode dizer o mesmo que se diz do amor: todas as condições iguala.” |
António Lobo Antunes, em Os Cus de Judas “Porque, deixe-me confidenciar-lho, sou terno, sou terno mesmo antes do sexto JB sem água ou do oitavo drambuie, sou estupidamente e submissamente terno como um cão doente, um desses cães implorativos de órbitas demasiado humanas que de quando em quando, na rua, sem motivo, nos colam o focinho aos calcanhares gemendo torturadas paixões de escravo, que acabamos por sacudir a pontapé e se afastam a soluçar decerto interiormente sonetos de almanaque, chorando lágrimas de violetas murchas.” |
John Updike, em Uma Outra Vida “Contudo, Fredericks voltou e removeu a mangueira para que o carro seguinte não atropelasse, ao mesmo tempo tentando imaginar como esses acessórios de nossa vida cotidiana, pacientemente conservados, guardados, enrolados e consertados como se sua utilidade fosse eterna, deviam parecer a alguém cuja morte era iminente. A mangueira. As flores. A colher de jardineiro abandonada cujo cabo amarelo-canário cintila entre as ervas silvestres ao lado do flox. O gramado mesmo, e o sol, o céu, as árvores semelhantes a maciços cenários bidimensionais desgastados — eles que se danem. O valor deles estava para ser submetido a uma revisão tão vasta e tão implacável que Fredericks não era capaz de imaginá-la.” |
Mario Vargas Llosa, em Elogio da Madrasta “Porque a felicidade era temporária, individual, dual, raríssima vez tripartida e nunca coletiva, municipal. Estava escondida, pérola em sua concha marinha, em certos ritos ou práticas cerimoniais que ofereciam ao ser humano lufadas e miragens de perfeição. É preciso se contentar com essas migalhas para não viver ansioso e desesperado, apalpando o impossível. “A felicidade se esconde no orifício das minhas orelhas”, pensou, de bom humor.” |
Ian McEwan, em A Praia “Tudo aquilo que ela precisava era da certeza do amor dele, e sua garantia de que não havia pressa, pois tinham a vida pela frente. Amor e paciência — se pelo menos ele tivesse conhecido ambos ao mesmo tempo — certamente teriam ajudado a vencer as dificuldades. E que dizer das crianças que poderiam ter tido, e da menininha com um arco no cabelo que poderia ter se tornado sua filha querida? É assim que todo o curso de uma vida pode ser desviado – por não se fazer nada.” |
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