Uma crônica sobre o término saudável de uma relação
A separação dói. Dói ainda que não haja mais resquícios de amor ou cumplicidade. Deixar para trás uma vida construída a dois para seguir vivendo só, reformulando os sonhos, replanejando as metas e reinventando-se, não é das tarefas mais fáceis.
Sendo assim, que haja separação quando ainda houver vestígios do que existia, mas em outra intensidade, com outras nuances. Um quadro bonito numa moldura digna. Que não esperemos que as cores desbotem e tornem-se apenas um borrão do que foi um dia - um quadro apático, que nem de longe lembra a aquarela viva de outrora, quando havia amor e planos.
Que saibamos quando não podemos mais caminhar juntos, mas que enxerguemos no fim um novo começo. Afinal o sentimento apenas se transformou, a relação passou por um tipo de mutação. E agora experiencia um carinho suave e mudo, talvez indiferente, uma coexistência branda, quase vegetativa.
Saudável é o fim que anuncia um amor que passou por uma metamorfose inevitável. Uma separação que se deu enquanto havia respeito e um certo resquício de casal, mas já sem paixão nos olhos. Saudável é o fim que nos permite desfrutar de uma amizade sem saudosismo crônico ou arrependimento pelo que poderia ter sido e infelizmente (ou felizmente) não foi.
Esmiuçar os fracassos e distribuir as culpas é perda de tempo.
E que possamos nos permitir seguir a vida com outros planos e sentimentos, tendo o término como pano de fundo para outros quadros, com outras cores e perspectivas - enquanto seguimos pintando, de alma leve e consciência tranquila.
Jenifer Severo
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