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  16:51

BELO POEMA PARA REFLEXÃO

Utilizando-me do ecletismo proposto no nosso Blog Cultura e Humor, apresento-lhes um poema belíssimo do admirado e consagrado poeta Augusto dos Anjos, que nos remete a reflexão no que há de vir, sobre o qual alguns crêem estar traçado desde antes de sermos concebidos.

 

      Utilizando-me do ecletismo proposto no nosso Blog Cultura e Humor, apresento-lhes um poema belíssimo do admirado e consagrado poeta Augusto dos Anjos, que nos remete a reflexão no que há de vir, sobre o qual alguns crêem estar traçado desde antes de sermos concebidos. Mas este destino deve ser entendido como o futuro. Para onde vou?...  Ele se pergunta, mas sua reflexão acaba por estender-se por sobre toda a humanidade. Poema em que as imagens são simples e claras, porém a descrição parece exagerar a realidade: “assombrado com a minha sombra magra”; parece mesmo procurar deformá-la: “O calçamento... copiava a polidez de um crânio calvo”.

Leitura propicia à mais pura reflexão:

 

As Cismas do Destino
(Augusto dos Anjos)

Recife. Ponte Buarque de Macedo.
Eu, indo em direção à casa do Agra,
Assombrado com a minha sombra magra,
Pensava no Destino, e tinha medo!

Na austera abóbada alta o fósforo alvo
Das estrelas luzia… O calçamento
Sáxeo, de asfalto rijo, atro e vidrento,
Copiava a polidez de um crânio calvo.

Lembro-me bem. A ponte era comprida,
E a minha sombra enorme enchia a ponte,
Como uma pele de rinoceronte
Estendida por toda a minha vida!

A noite fecundava o ovo dos vícios
Animais. Do carvão da treva imensa
Caía um ar danado de doença
Sobre a cara geral dos edifícios!

Tal uma horda feroz de cães famintos,
Atravessando uma estação deserta,
Uivava dentro do eu, com a boca aberta,
A matilha espantada dos instintos!

Era como se, na alma da cidade,
Profundamente lúbrica e revolta,
Mostrando as carnes, uma besta solta
Soltasse o berro da animalidade.

E aprofundando o raciocínio obscuro,
Eu vi, então, à luz de áureos reflexos,
O trabalho genésico dos sexos,
Fazendo à noite os homens do Futuro.

(Trecho de As Cismas do Destino, de Augusto dos Anjos).