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  14:20

Na festa de Santo Antônio em Campo Maior (PI)

Depois de dois anos sem os festejos de Santo Antonio , segue uma velha crônica de gerações que vivem a festa religiosa e social da cidadezinha

 Foto: EmFoco

De 31 de maio a 13 de junho, Campo Maior realiza a festa religiosa a Santo Antônio. Por toda a cidade e região dos carnaubais, os festejos do santo casamenteiro impulsionam a fé sincera do povo de Deus.

É festa e a cidade se agita e se enfeita todo para o grande evento: na abertura dos festejos do santo católico acontece a procissão com a imagem, a bandeira e o mastro de Santo Antônio a conduzir o povo das portas do colégio Patronato Nossa Senhora de Lourdes e segue até a majestosa Catedral, no centro da cidade. Homens e mulheres seguram no fetiche do santo na crença de encontrar um bom partido para casar, alcançado o milagre tão sonhado.

E nessas horas de procissão, para pegar no mastro do santo (não quero dizer pau, é claro!), para pegar no mastro vale tudo: começa um empurra-empurra todo mundo; ao longe grita-se “sai da frente, por favor”; um gay reza forte para casar em breve; alguém pisa numa unha encravada de dor; algumas caras feias acendem velas; um luterano distante volta-se para a fé só em Deus; muita lágrima e suor seguem a procissão; uma mulher joga praga nas encalhadas locais que impedem a procissão de andar; algumas pessoas desmaiam para cair em cima do pau santo, entre essas e outras manifestações de fé e festa... Aí, depois da graça alcançada, após encontrarem o amor ávido, algumas pessoas, depois de certo tempo, seguem até a cidade de Altos (PI) e pedem a São José que ajeite seus maridos errantes.

Fé e festa

Santo Antônio aproveita o mês de junho e tira férias. Pedi a Deus para visitar os festejos de Campo Maior (PI). Deus permite, mas adverte ao taumaturgo: “Cuidado, Antônio. E assim, Santo Antônio chega à cidade dos Heróis do Jenipapo, suja os santos pés no açude sujo de pecado ecológico, esbarra num político distribuindo dinheiro, mas surpreende-se com a fé feérica do povo de Deus e com as orações a embalar toda a cidade. Aos clérigos da Igreja, Santo Antônio pede mais fé e menos amém aos patrocinadores da festa local.  O santo também reza pelas barraquinhas que devem ter passado por alguma vistoria elétrica ou sanitária para funcionar em um evento deste porte (Deus salve os bombeiros!!). Um extintor de incêndio cairia bem nestas barracas de meu Deus.

 O negócio é comer, rezar e amar. Muitos turistas vêm paras as festas públicas da cidade e contribuem para a balança comercial favorável dos vendedores locais. Graças a Deus! O Espaço Cultural promove festas pagas com dinheiro público para aqueles que preferem o circo anual ao pão nosso de cada dia.  Para nossa vergonha regional, mendigos brotam do chão (ou de nossos olhos cegos) e esperam fora da Catedral pelo chamado de Deus, porque a piedade humana não cabe na igreja cheia de gentes de bem. Não cabe, pois em meio à festa religiosa, outra fé – a do dinheiro – domina a ama de alguns cidadãos em meio à barracas de tentação capitalista.

Festa e fé

Seu Laurindo, nos seus 80 anos campo-maiorenses, viveu todas as fases de sua vida distribuídas nas treze noites dos festejos de Santo Antônio. Na infância, a mãe de Laurindo obrigava-o a assistir às trezenas, quando o menino só queria brincar no parque de diversões. Na adolescência, o jovem aproveitava as trezenas para marcar encontros com as moças de família entre as barracas dos festejos, com todo o cuidado para que os familiares da mocinha não vissem nada (Laurindo só casou com uma moça depois que ela pegou no pau... De Santo Antonio, é claro!). Quando adulto, depois da oração da igreja, Laurindo dividia-se entre saborear os pratos regionais das barracas ou correr para os cabarés da rua Santo Antônio – de toda forma acabava comendo. Agora que velho, o velho Laurindo reza e passeia placidamente pelos festejos que o viram crescer e devir. Os netos e netas vivem agora as mesmas fases que ele percorreu um dia.

Laurindo agradece aos céus. Ele encontra seu velho amigo Santo Antônio que sorri e diz: “Ano que vem tem muito mais”.