Raquel Lyra, do PSDB, foi eleita governadora de Pernambuco, neste domingo (30). Ela é a primeira mulher da história a ser eleita para o cargo no estado e venceu Marília Arraes (Solidariedade). Por volta das 19h10, com 89,53% das urnas apuradas, ela tinha 2.798.956 votos, ou 58,87% dos válidos, e estava matematicamente eleita.
Raquel Lyra e Marília Arraes foram as primeiras mulheres a chegarem ao segundo turno na disputa pelo governo de Pernambuco. Esta foi a primeira vez na história do Brasil que duas mulheres disputaram o segundo turno por um governo estadual.
Candidata ao governo de Pernambuco Raquel Lyra (PSDB) vota acompanhada pelos filhos neste domingo (30), em Caruaru — Foto: Reprodução / TV Asa Branca
Candidata ao governo de Pernambuco Raquel Lyra (PSDB) vota acompanhada pelos filhos neste domingo (30), em Caruaru — Foto: Reprodução / TV Asa Branca
Na chapa de Raquel Lyra, Priscila Krause (Cidadania) foi eleita vice-governadora de Pernambuco. Esta também é a primeira vez no Brasil em que uma chapa composta por duas mulheres vence a disputa por um governo estadual.
Para completar o cenário de ineditismo, Teresa Leitão, do PT, foi eleita senadora nesta eleição, com 46,12% dos votos válidos, o que equivale a 2.061.276 votos.
A eleição de Raquel Lyra põe fim a uma sequência de 16 anos de mandatos do PSB à frente do governo de Pernambuco. Foram dois mandatos de Eduardo Campos, morto num acidente aéreo em 2014, durante a disputa presidencial, e outros dois mandatos de Paulo Câmara (PSB), atual governador.
O PSB chegou a lançar o deputado federal Danilo Cabral como candidato para as eleições deste ano, mas ele ficou em quarto lugar no primeiro turno, com 18,06% dos votos válidos, ou 885.994 votos no total.
Perfil
Raquel Lyra nasceu no Recife, tem 43 anos e foi prefeita de Caruaru, no Agreste, por dois mandatos consecutivos. Renunciou ao cargo em março deste ano, para concorrer ao governo. Entre 2007 e 2016, foi filiada ao PSB e, em 2016, se filiou ao PSDB, partido do qual faz parte atualmente.
Ela é mãe de João, de 12 anos, e de Fernando, de 10 anos. O pai de Raquel, João Lyra Neto (PSDB), foi vice-governador de Eduardo Campos e assumiu o governo em 2014, quando Campos deixou o cargo para concorrer à Presidência.
Raquel é viúva. Ela era casada com o empresário Fernando Lucena, que morreu no dia 2 de outubro deste ano, dia das eleições para o primeiro turno. Ele estava em casa, em Caruaru, no Agreste, quando se sentiu mal. Chegou a ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não resistiu.
Raquel Lyra é formada em direito pela UFPE. Já trabalhou como advogada do Banco do Nordeste e, em 2002, assumiu o cargo concursado de delegada da Polícia Federal, onde permaneceu até 2005. Ela renunciou ao cargo após passar no concurso para a Procuradoria-Geral do Estado (PGE).
Durante a gestão de Eduardo Campos, foi chefe da Procuradoria de Apoio Jurídico e Legislativo do governo, entre 2007 e 2010. Foi eleita deputada estadual em 2010, pelo PSB, mas licenciou-se do cargo para assumir a Secretaria da Criança e da Juventude no segundo mandato de Eduardo Campos. Em 2014, foi reeleita deputada estadual.
Saiu do PSB em março de 2016, ano em que lançou candidatura à prefeitura de Caruaru. Foi eleita em primeiro turno, e foi a primeira mulher a assumir o cargo na cidade. Em 2020, foi reeleita, também em primeiro turno.
Campanha
O resultado do segundo turno foi o inverso do que aconteceu no primeiro turno, quando Marília Arraes ficou na frente, com 1.175.651 votos, ou 23,97% dos votos válidos, enquanto Raquel Lyra teve 1.009.556 votos, ou 20,58% dos votos válidos.
Nas pesquisas de intenção de voto do primeiro turno, Marília Arraes liderava isolada, chegando a ter 38%. O resultado foi mais de 10 pontos percentuais a menos do que indicavam os levantamentos. Já no segundo turno, Raquel Lyra ficou em primeiro lugar em todas as pesquisas Ipec.
O percurso até o segundo turno foi marcado por ataques de ambos os lados, principalmente com relação aos apoios recebidos e posicionamentos políticos das duas candidatas na corrida pelo governo (veja no fim da matéria).
Marília Arraes, em toda a campanha, cobrou de Raquel Lyra posicionamento sobre a disputa presidencial entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL). A governadora eleita, por sua vez, se recusou a declarar voto ou fazer campanha para qualquer um dos candidatos.
Já Raquel Lyra, ao longo da campanha, tentou associar Marília Arraes à gestão de Paulo Câmara, já que o PSB, no segundo turno, anunciou apoio à candidatura dela. Marília Arraes rebatia essas críticas lembrando o tempo em que Raquel Lyra, ainda no PSB, era aliada do atual governador.
Raquel Lyra também reclamou e se utilizou politicamente das tentativas de Marília Arraes de nacionalizar a discussão. Quando cobrada sobre posicionamento na disputa presidencial, Raquel acusava a adversária de não ter propostas e de se apoiar em padrinhos políticos para a disputa, especialmente no ex-presidente Lula, que, no segundo turno, apoiou Marília Arraes.
Os problemas pessoais das candidatas também foram pautados na disputa. Logo após o primeiro turno, a campanha de Raquel Lyra pediu o adiamento do início do guia eleitoral, já que a candidata estava de luto pela morte do marido. Consultada, a campanha de Marília Arraes não concordou com o adiamento, o que causou polêmica nas redes sociais.
Problemas pessoais
A campanha para o segundo turno foi tumultuada para as duas candidatas ao governo, a começar pela morte do marido de Raquel Lyra, no dia da eleição do primeiro turno. Por causa disso, ela suspendeu as atividades de campanha por uma semana, período em que a então candidata a vice, Priscila Krause, comandou a campanha.
Onze dias depois de perder o marido, Raquel Lyra enfrentou mais um problema na vida pessoal. O filho mais velho dela, João, de 12 anos, passou mal e teve que ser submetido a uma cirurgia de urgência por causa de uma apendicite.
Já Marília Arraes começou a campanha ao governo grávida da terceira filha, Maria Magdalena, mesmo nome de Magdalena Arraes, viúva do ex-governador e avô de Marília, Miguel Arraes, a quem ela considera avó.
No dia 16 de outubro, com seis meses de gestação, Marília Arraes passou mal devido a um pico de pressão alta, algo que pode ser perigoso durante a gestação. O problema ocorreu após uma entrevista numa emissora de TV e fez com que a candidata suspendesse por um dia as atividades.
g1
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