Pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (Ufpi) estão intrigados e estudam o esqueleto de uma adolescente indígena, que pode ter mais 6 mil anos, encontrado há pouco menos de um ano num sítio arqueológico na Serra das Confusões, no território do município de Guaribas.
Ela foi batizada pelos pesquisadores de Jéssica.A escavação é coordenada pelo Professor Tiago Tomé (UFMG) e pelo professor Gregoire van Havre (UFPI).
Segundo a professora e bioarqueóloga Cláudia Cunha, do curso de Arqueologia da UFPI, o principal ponto que intriga os pesquisadores são sinais de que a jovem nasceu com uma má formação no fim da coluna.
Jéssica era incapaz de caminhar. O problema causou deformidades nas pernas e nas costelas dela. Assim, ela precisou ser carregada durante toda a vida.
A deformidade é aparente ainda no bebê recém-nascido, e em sociedades muito antigas, como era o caso da família de Jéssica, indivíduos com problemas desse tipo eram sacrificados por questão de sobrevivência. Mas isso não aconteceu com ela.
"Ela foi um 'peso' pro grupo, e no entanto foi muito bem cuidada. Ela é um achado que mostra coesão social, um grupo em que os indivíduos cuidavam uns dos outros. Se outros fósseis encontrados mostram os 'primeiros americanos', Jéssica é uma mostra das primeiras sociedades", comentou a bioarqueóloga.
Ainda segundo a professora, a análise dos dentes de Jéssica mostram que ela foi muito bem alimentada durante toda a vida, e não sofreu estresses. Os pesquisadores tentam entender o motivo desse cuidado, que não era próprio dessas sociedades.
Sepultamento 'formal'
A professora Cláudia Cunha comentou ainda que Jéssica foi sepultada numa cerimônia "formal", e com adereços que revelam a importância que ela tinha para o grupo.
A adolescente foi sepultada com um bracelete feito com quase mil contas feitas de um pequeno tipo de coco, polidas cuidadosamente e amarrados com um fio de algodão. Ela tinha uma trança e penas de aves enfeitando os cabelos.
Ainda segundo os pesquisadores, Jéssica foi sepultada com um crânio de anta. Só que antas não vivem na região há pelo menos 6 mil anos.
"Isso pode indicar duas coisas: ou que ela tem mais de 6 mil anos, ou que esse crânio foi comercializado, e enterrado com ela como um objeto de grande valor", comentou a professora.
Uma falange da mão de Jéssica foi enviada para a França, para ser definido quanto tempo tem o esqueleto de modo mais preciso. Um artigo com as conclusões da pesquisa sobre a menina devem ser publicados em breve.
Ainda não se sabe ao certo se havia um motivo especial para Jéssica ser tão bem cuidada. As pesquisas no sítio serão retomadas no final do mês de julho. Os pesquisadores esperam encontrar outras pessoas enterradas no local e objetos feitos por essa comunidade, como cerâmicas ou ferramentas que ajudem a identificá-los.
Fonte/Créditos: g1
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