O atual prefeito de Campo Maior (PI), João Félix de Andrade Filho (Progressista) tenta emplacar um filho a prefeito na vizinha cidade de Jatobá do Piauí, onde João Félix começou sua carreira política no executivo, sendo prefeito por dois mandatos.
João Félix e seus aliados têm usado um discurso forte contra o atual prefeito do município, argumentando que precisam “unir as famílias de Jatobá do Piauí e acabar com a perseguição”, adjetivos que seriam direcionados a supostas ações feitas pelos seus adversários, mas a história e os arquivos jogam as palavras de João Félix contra si mesmo e contra alguns aliados que já foram vítimas de ações dele próprio.
A HISTÓRIA DE PODER DOS “FÉLIX” EM JATOBÁ
O munícipio de Jatobá do Piauí foi emancipado em 14 de dezembro de 1995, através da lei estadual lei Nº 4.810/95, e teve sua primeira eleição em outubro de 1996. João Félix, então vereador de Campo Maior, foi para Jatobá do Piauí e conseguiu se eleger prefeito.
Ele assumiu a gestão administrativa do recém-emancipado município em janeiro de 1997, concluindo seu primeiro mandato em 31 de dezembro de 2000, quando já estava reeleito para o segundo mandato, que iniciou em janeiro de 2001. Seu segundo mandato em Jatobá do Piauí foi interrompido em agosto de 2004, quando João renunciou para se candidatar a prefeito em Campo Maior, onde seria eleito e, posteriormente, cassado por ser “prefeito itinerante”. Seu vice assumiu na época.
Naquele mesmo ano de 2004, João Félix se elegeu em Campo Maior e reelegeu seu sucessor em Jatobá do Piauí, seu primo Dalberto Rocha (2005-2008).
Foram, então, 12 anos de gestão do mesmo grupo político, das mesmas pessoas no poder em Jatobá do Piauí, o que criou uma insatisfação de parte da população, que em 2008 elegeria Macedo Bandeira (PT) e colocaria fim da “família Félix” seguidamente no poder, termo usado pelos adversários da época.
A HISTÓRIA DE PERSEGUIÇÕES A ADVERSÁRIOS
O discurso atual de João Félix para “unir as famílias e acabar com perseguições”, entre outros termos fortes, é um tiro no pé do próprio João Félix, porque a história não pode ser apagada, nem os arquivos de processos judiciais. Os adversários de João Félix reagiram e destacaram que era na gestão de João Félix que tinha perseguição.
O Em Foco fez consultas, ouviu pessoas, e encontrou pelo menos cinco casos que marcaram profundamente as gestões da “família Félix” em Jatobá.
O primeiro envolve o próprio fim do poder, com a eleição do prefeito Macedo Bandeira em 2008. Macedo é um agricultor, plantador de melancia, homem do campo, mas entrou na política e foi o vereador mais votado nas eleições de 1996 e 2000, aliado a João Félix. Para a eleição de 2004, Macedo foi convidado e ‘abraçado’ pela oposição, que já havia perdido as duas eleições anteriores. Ele aceitou o desafio de enfrentar a máquina e o poder.
Macedo rompeu com “os Félix”, se filiou ao Partido Social Brasileiro (PSB) e levou consigo um bom números de lideranças, se juntando a adversários históricos “dos Félix”, e formando um grupo favorito para aquela eleição. Entre os aliados de Macedo, que não viria a ser candidato, por falta de partido, estava o atual vereador Zé Raimundo, que hoje é aliado “dos Félix”.
Eis, então, que João Félix, usando o poder político e econômico e a influência estadual que já tinha naquela época, conseguiu que parte da direção do PSB voltasse atrás da decisão de ter Macedo Bandeira em seus quadros e voltou a apoiar João Félix. Em nível estadual, o PSB pediu apenas que o partido deveria ter candidatura própria.
Na prática, João Félix “tomou” o partido, lançando uma candidatura de fachada de duas professoras a prefeita e vice pelo PSB e, assim, proibir que Macedo Bandeira fosse o candidato da oposição.
Na época, o discurso de João Félix, e seu grupo, era de que Macedo Bandeira tinha sido barrado pela justiça, por supostas irregularidades quando foi presidente da câmara de vereadores. Não consta no Tribunal de Contas nenhuma condenação de Macedo naquela época.
Naquele tempo não tinha internet, não tinha os esclarecimentos de hoje e a narrativa de que era a justiça quem estava barrando a candidatura de Macedo virou uma “verdade”, mas o motivo foi apenas uma disputa política e financeira, onde a diretoria local do PSB fingiu uma convenção onde o nome de Macedo teria sido rejeitado, sendo aprovado o nome de duas professoras, que foram, de fato, para uma eleição sem propaganda, sem os “showmícios” que ainda eram permitidos. Foi uma candidatura de fachada. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, a chapa do PSB tirou 40 votos (0,74%).
Macedo teria como vice o senhor Raimundo Dedé. Depois da briga judicial e briga de poder, e a negativa no registro de candidatura de Macedo, seu vice, Dedé, passa a ser o candidato da oposição, passando a ter como vice Genival Pereira (Genival do Genésio). Macedo era favorito, mas com as mudanças, o grupo acabou perdendo fôlego e Raimundo Dedé (PMDB) acabou perdendo a eleição para Dalberto Rocha.
Dalberto Rocha foi eleito com 1.796 votos (53,07%) pela Coligação “Jatobá Continua Crescendo” formada por PSDB/PPS/PFL; já Raimundo Dedé, da coligação “Unidos Por Jatobá”, formada por PMDB/PDT/PT/PTB/PV/PCB, tirou 1.563 votos (46,19%).
Depois dessa manobra, Macedo se filiou ao PT e, em 2008 venceria a eleição contra o próprio Dalberto Rocha, que buscava a reeleição. Macedo, desta vez na coligação PT/PDT e o mesmo PSB, agora com outros dirigentes, se elegeu com 2.161 votos (51,61%), contra 2.026 votos (48,39%) de Dalberto Rocha, da coligação PSDB/PPS/DEM.
OS LADOS
Sobre esse episódio, o Em Foco tentou contato com o ex-prefeito Macedo, mas não obteve retorno. Também não conseguiu contato com os dirigentes do PSB na época, que tinha, entre eles, o ex-vereador Evanilson Pereira [que hoje vive totalmente fora da política]. Também não conseguiu contato com as duas candidatas a prefeita e vice-prefeita na época. Também não conseguiu contato com Raimundo Dedé. Mandou mensagens para o atual vereador Zé Raimundo, mas esse não respondeu.
A HISTÓRIA DE PERSEGUIÇÕES A FUNCIONÁRIOS
Outro caso emblemático de perseguição a funcionário, que voltou na história com os discursos políticos, envolveu duas professoras que já eram funcionárias efetivas da cidade de Campo Maior, mas trabalhavam no então povoado de Jatobá. Com a emancipação do município, elas e outros funcionários migraram, obviamente, para a área administrativa de Jatobá, mas essas duas professoras não forma aceitas pelo então prefeito Joãozinho, por não votar nele.
Uma dessas professoras, hoje é aposentada na rede municipal, mas continua na ativa em cargo na rede estadual e respondeu as mensagens do Em Foco.
Segundo ela, seu salário deixou de ser pago, foi transferida para uma escola bem distante de sua casa.
“Me jogaram para uma escola com 18 alunos, muito distante da sede de Jatobá. Fica mais perto para Campo Maior. Fui firme e disse que estava para trabalhar, mas só podia ir se me desse um helicóptero, por que era uma escola atravessando rio cheio. Vários fatores resultaram em uma disputa judicial”, disse.
Ainda segundo a professora, tudo aconteceu, por que politicamente ela não votou em João Félix.
“Eu assumi que não votei. Ou seja, aquela pessoa é muito perseguidora. Não aconteceu só comigo. Teve outra professora que hoje é falecida. Passei 5 anos recebendo uma “micharia” com ordem judicial e só depois [da decisão final a justiça] voltei a trabalhar. Perdi esse tempo de serviço por falta de conhecimento, orientação jurídica. Para os funcionários de Jatobá que não votaram nele, ele foi o maior perseguidor que eu já vi durante a minha vida profissional na educação. O gestor de maior perseguição foi esse” disse a professora.
Ainda segundo a professora, não é orgulho divulgar o que passou. Hoje continua ativa na educação na rede estadual, está firme e forte contribuindo com a educação, respeitando muito a vida profissional e gostando do que faz.
O segundo caso de suposta perseguição aconteceu com outras três professoras que tinham uma jornada de trabalho de 40h (segundo turno), mas tiveram esse direito retirado.
O Em Foco fez contato com as três professoras. Uma disse que “não confirmava [a suposta perseguição, nem o processo], nem queria que publicassem matéria em seu nome”. A outra professora disse apenas que “não confirmava, não autorizava”. O Processo número 0807512-76.2022.8.18.0026, no entanto, é de domínio público.
A terceira professora confirmou que “é verdade” e disse que “foram reintegradas ao segundo turno e ainda rola o processo na justiça para reparar danos”.
Segundo o processo, disponível no Tribunal de Justiça do Piauí, o advogado de defesas das professoras é Jose Ribamar Coelho Filho. A última movimentação desse processo é datada de 7 de outubro de 2023, pela Secretaria do JECC Campo Maior Sede (Juizado Especial Cível da Comarca).
O Em Foco também tentou contato com o advogado Ribamar Coelho, para confirmar os transmites do processo, já que duas das pessoas “participante ativas” no processo, não quiseram confirmar a existência do mesmo, mas a reportagem não conseguiu contato do advogado. O espaço fica aberto.
Outro caso disponível no site do TJ-PI envolve o servidor, supostamente perseguido, Antonio José de Oliveira Neto. Neste caso, o advogado é Lucas Santiago Silva. (PROCESSO Nº: 0001099-61.2014.8.18.0026).
Segundo o processo, a reclamação é de direitos negados, inclusive com mudança de funções. Esse processo é de 2014, quando o prefeito era Dalberto Rocha.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião desta página, se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.