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  21:49

Imprensa estadual afirma que Antônio Félix está aliado ao Governador W. Dias do PT

Gráfico feito pela imprensa da capital mostra os parlamentares que fazem parte da base de apoio ao Governador Wellington Dias, entre eles está o campomaiorense.

 

Em minoria na Assembleia Legislativa do Estado, a oposição ao governo de Wellington Dias (PT) tem encontrado dificuldades para apresentar um programa político alternativo ao defendido pelo grupo hoje no poder. Em parte, essa dificuldade seria resultado do processo de simbiose vivido pelo Executivo e o Legislativo no Piauí, em uma relação mutuamente vantajosa para os dois lados.

 

A análise é do professor doutor da Universidade Federal do Piauí e cientista político, Cleber de Deus. Em entrevista ao O Olho, ele avalia que além de tamanho, falta convicção ideológica e identidade para a oposição no Piauí.

 

Quando os piauienses foram às urnas no dia 05 de outubro de 2014 uma nova Assembleia Legislativa foi composta. Dos 30 parlamentares estaduais, esses eleitores decidiram eleger apenas nove da base do governador Wellington Dias. As demais vagas foram ocupadas por parlamentares que estiveram do lado oposto: a oposição.

A situação era ruim para Wellington, mas passados nove meses do início de administração, o governo petista deu uma virada e, em nome da tão falada governabilidade, detém hoje o apoio da maioria na Assembleia.

 

Com uma oposição reduzida, o governador não tem encontrado dificuldades para aprovar as matérias de interesse do Palácio de Karnak. Seguindo a lógica da dualidade entre oposição e situação, o governo enviaria as propostas à Casa e os aliados aprovariam. Mas na Assembleia do Piauí, a linha que separa os dois lados é tão tênue que fica difícil de saber quem não é governo e Wellington tem encontrado apoio dos dois lados.

 

O QUE DEFENDEM OS INDENPENDENTES?

 

Diante dessa falta de identidade que vive a oposição no Piauí, tem crescido o número de deputados que se declaram independentes. Para esses parlamentares, essa dualidade oposição X governo não atende mais aos seus interesses.

 

O cientista político Cleber de Deus explica que para entender a oposição no Piauí e o grupo dos que se dizem independentes é preciso voltar ao ano de 2002 quando o PT assumiu o poder no primeiro mandato de Wellington Dias. Segundo ele, sem um partido com disposição de assumir o papel que antes era dos petistas, a sigla mantém a prática dos governos anteriores de “eliminação da oposição” que se deixa cooptar.

 

“A oposição no Piauí não tem uma questão ideológica definida. Hoje não tem um partido de oposição, alguns nomes apenas. Falta convicção e propostas concretas para a oposição. Diante dessa situação alguns deputados se declaram independentes. Mas o que eles defendem? Passam a negociar com o governo interesses pessoais e votam e atuam de acordo com os interesses que possuem naquele momento. Não estão presos a um grupo”, comentou.

 

O deputado Evaldo Gomes (PTC) que foi expulso da base acusado de traição pelo governador, é um dos que se declara independente. Ele diz defender os interesses do Piauí independente de governo e oposição. Mas na Assembleia é vista como certa a volta do parlamentar à base. Ele busca o apoio do PT e do governador para ser candidato à prefeitura de Teresina em 2016.

 

“Não sou ligado ao governo e nem negócio cargos com o governador. Apenas defendo os interesses do Piauí. Estive reunido com o Wellington, mas apenas tratei dos interesses do Estado. Me coloco como independente e em defesa do povo”, disse.

 

A mesma posição é defendida pelo deputado Dr. Pessoa (PSD) que também é pré-candidato à prefeitura de Teresina. “Eu vim de uma família humilde que não tem tradição política. Minha atuação é em defesa dos pobres e dos mais humildes. Apoio um projeto quando acho que é bom para o povo, caso o contrário, sou contra”, explica.

 

ETERNO GOVERNO

 

Tentar definir a oposição no Estado fica mais difícil quando o PMDB, partido do principal adversário do governador Wellington Dias durante a eleição de 2014, o ex-governador Zé Filho (PMDB), é hoje a legenda que negocia e ajuda o governo a aprovar as propostas com a participação direta do presidente da Casa, deputado Themístocles Filho (PMDB). Para aprovar qualquer projeto, Wellington sempre recorre a ajuda de Themístocles.

 

O deputado diz que apenas defende os interesses do povo do Piauí e apoia os projetos que beneficiam o Estado. “Qualquer deputado deve votar com o Piauí. Isso independe se ele for ou não oposição. Esse é o papel do parlamentar. Não é porque é oposição que se vai votar contra tudo só por votar”, argumenta.

 

A posição de Themístocles parece que tem sido seguida por todo o PMDB naquela Casa. A oposição a Wellington durante a campanha foi transformada em um apoio às vezes mais eficiente quanto o da própria base. O partido tem seis parlamentares e dificilmente algum deles faz papel contundente de oposição. Hoje é mais fácil encontrar parlamentares do PMDB circulando nos corredores do Karnak de que alguns partidos da base.

 

“O PMDB não é um partido de oposição e nunca vai ser. Eles sempre voltam para o governo. O deputado Themístocles também nunca apresentou postura de oposição. O governo mantém a política da barganha e a oposição interessada em poder se deixa levar por isso”, comenta o cientista político.

 

NÃO HÁ PARTIDOS, APENAS NOMES

 

Sem uma identidade definida, a oposição no Piauí não é composta por partidos contrários ao atual governo, mas apenas por nomes. O grupo é hoje liderado pelo deputado Robert Rios (PDT). Ele protagoniza os principais debates entre oposição e governo. Mas já foi por oito anos integrante dos dois primeiros governos de Wellington como secretário de Segurança.

 

A atuação da oposição na Assembleia divide a opinião dos próprios oposicionistas. O deputado Marden Menezes diz reconhecer que a oposição vive uma crise de identidade e fala das dificuldades.

 

“Essa crise de identidade existe. Eu tenho dificuldade de identificar quem compete na trincheira da oposição. Não tenho o direito de apontar o dedo para ninguém. Cada um sabe da responsabilidade do seu mandato, mas não seria demagogo de negar que essa dificuldade dentro da oposição existe. Eu sou abordado nas ruas por pessoas que querem entender porque alguns deputados não assumem esse papel. Há uma dificuldade de identificar os parlamentares da oposição, não nego”, disse.

 

O líder Robert Rios discorda e avalia que a oposição tem cumprido o papel de fiscalizar as ações do governo. “Não vejo crise. A oposição fiscaliza o governo, representando requerimentos. A oposição é oposição. Agora esses que se dizem independentes não sabem o que é oposição. A oposição tem dado o recado ao governo que é preciso enfrentar a crise e cortar gastos”, declara.

 

Como companheiros do grupo de oposição, Robert Rios aponta os deputados Marden Menezes (PSDB), Wilson Brandão (PSB), Rubem Martins (PSB), Juliana Moraes (PMDB), Edson Ferreira (PSD) e Gustavo Neiva (PSB). Dentro dos partidos dos quais eles fazem parte há parlamentares da base e que votam seguindo a orientação do governo.

 

GRÁFICO MOSTRA COMO OS DEPUTADOS SE DENOMINAM NA CASA:

 

 

É PRECISO TRÉGUA?

 

A fragilidade da linha que separa governo e oposição ficou evidente após o líder Robert Rios propor uma trégua ao governo de Wellington Dias (PT). De acordo com o parlamentar, a oposição estaria buscando o diálogo com o governo para evitar que o Piauí entrasse em uma crise tão profunda como de Estados como o Rio Grande do Sul, mas passados poucos dias o fim da trégua foi anunciado.

 

A oposição estava se propondo a votar as propostas de interesse do governo desde que fosse ouvida. Mas Robert resolveu romper a trégua depois que Wellington visitou a Assembleia. Para os jornalistas, ele afirmou que a reuniões foi marcada no horário das reuniões da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), comissão que ele é presidente. Mas nos bastidores, comenta-se que os motivos seriam outros.

 

Como líder da oposição, o deputado desejaria intermediar o diálogo com o governo e não teria gostado da decisão de Wellington de ouvir cada deputado em separado. Ele nega. “Quem anunciou a trégua foi a imprensa. A oposição desejava dialogar com o governo. Mas Wellington tem se negado a ouvir o alerta que fazemos. A crise vai se agravar e o Estado pode ficar sem dinheiro para pagar servidores e o 13º salário”, justificou.

 

Para o cientista Cleber de Deus, os questionamentos sobre a atuação da oposição se devem em parte por alguns dos nomes que o hoje a integram já terem feito parte dos governos anteriores de Wellington. “Como o Robert Rios vai criticar um governo que ele fez parte por anos. Da mesma forma ocorre com o PMDB. É dessa relação que surge essa falta de identidade”, comenta.

 

O deputado Marden Menezes afirma que a declaração de “trégua” foi um a colocação infeliz. “Acredito que o deputado Robert não soube se expressar sobre essa trégua. Logo ele que é um bom orador. A oposição não tem que declara guerra ou trégua. Tem que fazer seu papel e pronto. Ela tem que ceder e colaborar com aquilo que de fato for de interesse da sociedade”, disse.

 

WELLINGTON BUSCA APROXIMAÇÃO

 

A oposição é pequena, mas preocupa e por isso o governador Wellington Dias faz questão de manter o diálogo com os parlamentares que formam o grupo. O petista tem convocado os deputados para reuniões individuais no Palácio de Karnak. O primeiro foi Evaldo Gomes, o próximo será o deputado Edson Ferreira (PSD). O líder Robert Rios e os demais também devem ser convocados.

 

Wellington nega qualquer tipo de negociações de cargos na tentativa de cooptar os parlamentares da oposição. “Vamos tratar do Piauí. Esse diálogo faz parte da democracia. Governo e oposição devem discutir o melhor para o Piauí”, disse.

 

Para Cleber de Deus, a Assembleia Legislativa e o Palácio de Karnak vivem uma situação de simbiose. “A relação beneficia os dois lados. O governo oferece vantagens para ter seus interesses atendidos e os deputados se deixam cooptar. Essa relação sempre existiu no Piauí, Brasil e no mundo”, comenta.

Por Weslley Paz

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