Em sua segunda visita ao Nordeste em menos de um mês, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que governadores da região "fazem politicalha", querem transformar o Nordeste "em uma Cuba" e negou que tenha agido com preconceito contra os nordestinos.
"Não estou aqui com colegas nordestinos para fazer média. [...] Mas não existe esta questão de preconceito. Eu tenho preconceito é com governador ladrão que não faz nada para o seu estado", afirmou o presidente em Sobradinho (a 602 km de Salvador), nesta segunda-feira (5).
Bolsonaro voltou a negar que tenha se referido aos governadores nordestinos como "paraíbas". Disse que fez críticas específicas aos governadores do Maranhão, Flávio Dino (PC do B) e da Paraíba, João Azevêdo (PSB), mas afirmou que não vai penalizar os estados.
"Não vou negar nada para o estado. Mas se eles [governadores] quiserem que realmente isso tudo seja atendido, eles vão ter que falar que estão trabalhando com o presidente Jair Bolsonaro. Caso contrário, eu não vou ter conversa com eles e vou divulgar obras junto às prefeituras", afirmou.
Bolsonaro ainda afirmou que o Nordeste tem recebido recursos abundantes do governo federal e que não vai admitir que governadores do Maranhão e da Paraíba "façam politicalha perante a minha pessoa".
Mesmo afirmando que não chamou os governadores nordestinos de "paraíbas", Bolsonaro lamentou não poder fazer piadas sobre os cidadãos de diferentes estados brasileiros.
"A gente não pode mais contar uma piada. Não posso nem contar piada de cabeçudo, de goiano, de gaúcho, de cearense cabra da peste. Não há mais liberdade neste país. Tudo é politicamente correto", afirmou.
Em nova referência aos governadores nordestinos, o presidente acusou uma "esquerda canalha" de querer dividir o país. "Para alguns governadores... é o Nordeste e o resto. Querem fazer disso aqui uma Cuba?", questionou.
O presidente ainda criticou a iniciativa dos governadores de se unirem em torno do Consórcio Nordeste, que vai possibilitar parcerias entre os governos da região, e afirmou que eles atuam para dividir os brasileiros.
"O Brasil é um só, não queiram dividir regiões. Tem alguns que acham que aquela região é dele e não do povo. Isso não existe, o Nordeste é Brasil."
O presidente foi à Bahia inaugurar a primeira etapa da Usina Solar Flutuante, erguida pela Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) em Sobradinho.
Orçado em R$ 55 milhões, a usina possui 3.792 painéis solares e potência instalada de um megawatt pico. O projeto foi licitado na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e iniciado no governo Michel Temer (MDB).
A visita acontece dias depois de Bolsonaro dar o sinal verde para que o governo federal inicie o processo de capitalização da Eletrobras, que levará à saída da União do controle da empresa.
A Chesf é uma das subsidiárias da Eletrobras. Fundada em 1948, é responsável pela gestão de 12 usinas hidroelétricas no Nordeste.
A perda do controle acionário da União é tema controverso e tem oposição dos governadores nordestinos, que são contra o controle da Chesf pela iniciativa privada. Em maio do ano passado, ainda na gestão Temer, eles assinaram uma carta solicitando a exclusão da Chesf do grupo Eletrobras.
A possível perda do controle acionário da Chesf pela União deve aumentar ainda mais o clima de tensão entre o presidente e os governadores da região –7 dos 9 políticos são de partidos da oposição.
Sobre a posição contrária à privatização da Chesf, o presidente afirmou que "grande parte dos governadores no Nordeste são socialistas".
Há cerca de duas semanas, Bolsonaro se referiu aos governadores nordestinos pelo termo pejorativo "paraíbas". Dias depois, veio à Bahia para inaugurar o aeroporto de Vitória da Conquista, quando disse que "ama o Nordeste" e que tem na família "sangue de cabra da peste".
Assim como o ato em Vitória da Conquista, a inauguração em Sobradinho também não teve a participação do governador da Bahia, Rui Costa (PT), que nesta segunda-feira cumpre agenda em Brasília e São Paulo.
Sobre a ausência do governador da Bahia, Rui Costa (PT) na solenidade desta segunda, o presidente disse que ninguém o proibiu de comparecer à solenidade.
"Quem tem preconceito é ele. Se estivesse aqui seria muito bem-vindo, não teria em momento algum falado algo contra ele. Agora, quem está com medo de encarar o seu próprio povo é ele", disse.
Em Sobradinho, Bolsonaro discursou para cerca de 200 pessoas, dentre autoridades, empresários e funcionários da Chesf. O ato não foi aberto aos moradores da região.
José Sérgio
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