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  18:30

Secretário de governo participa de coletiva para esclarecer agressões à esposa

A interpretação de Pedro sobre a Lei Maria da Penha é surreal. Confira a Entrevista:

 

O secretário executivo de coordenação de governo do Rio, Pedro Paulo Carvalho (PMDB-RJ) participou na última quinta (12) de uma coletiva de imprensa em que não se falou de Olimpíadas, transporte público ou policiamento. O pré-candidato à prefeitura do Rio estava lá para assumir que havia espancado a ex-mulher, Alexandra Marcondes Teixeira, durante o Natal de 2008.

 

A coletiva foi convocada após duas denúncias. Em outubro, Veja revelou que Alexandra havia sido arremessada no chão e levado chutes e pontapés em 2010. Depois, Época mostrou que aquela não havia sido a primeira agressão.

Pedro mostrou não ter a menor dificuldade para justificar seus atos monstruosos.

 

"Quem é que não tem uma briga dentro de casa? Quem é que não tem um descontrole? Quem é que não exagera numa discussão? Nós somos um casal como qualquer outro. Às vezes exagera, fala coisas que não deve. Agora, não achar que isso possa ser uma coisa normal na nossa vida?", disse durante a coletiva.

 

Temos as respostas para a dúvida do braço direito do prefeito Eduardo Paes (PMDB-RJ): violência contra a mulher NÃO é uma coisa normal na vida de ninguém. É crime, e mata. De acordo como Mapa da Violência 2015, 4.762 mulheres foram assassinadas no País em 2013. E 4 em cada 10 dessas mulheres foram assassinadas por companheiros ou ex-companheiros.

 

Divulgado por Época, o boletim de ocorrência lavrado em 26 de dezembro de 2008 registra que Alexandra foi xingada de vagabunda e piranha, e tomou bofetadas no rosto e no corpo. A filha do casal, à época com 2 anos, estava no banco de trás.

 

Mesmo assim, Alexandra permaneceu o tempo todo ao lado de seu agressor durante a coletiva. E disse não enxergar em Pedro um homem violento: "Nós tivemos duas discussões que foram esses dois tristes episódios, mas ele nunca foi um cara agressivo", disse.

E complementou: "Na vida de um casal, os dois entre quatro paredes, qualquer um se destempera, você pede, você fala, você quer ouvir, você cobra. Você age com o coração com a emoção. Você perde a cabeça e não tem como explicar."

 

Em outubro, Veja revelou um laudo de exame de corpo delito que comprova que Alexandra foi usada como saco de pancadas em 2010. O laudo descreve que Alexandra foi jogada contra a parede e o chão, teve o pescoço agarrado e tomou socos e chutes.

 

Em entrevista à Folha, Pedro Paulo disse que aquele havia sido um momento único de "descontrole", após negar as acusações da revista durante três semanas. "Não tenho uma atitude de violência antes e depois desse episódio", afirmou.

Logo depois, durante um evento, disse que já havia pedido desculpas para a ex-mulher, e que a agressão havia sido mútua.

 

"Eu traí minha mulher. Você imagina o calor dessa discussão. Agora, associar isso a um ato de violência doméstica repetitivo, continuado, de um comportamento violento, isso em hipótese alguma posso admitir. Quem me conhece sabe disso. Não tenho qualquer tipo de comportamento parecido com aquilo que prevê a Lei Maria da Penha".

 

A interpretação de Pedro sobre a Lei Maria da Penha é surreal. Diz o Art. 5º do Capítulo I da norma:

 

Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015)

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

 

Ou Pedro é incapaz de interpretar leis, a despeito de sua carreira de 20 anos na política, ou zomba de todas as mulheres brasileiras ao minimizar o peso de seus crimes. 

 

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, também deu de ombros para o absurdo. "Chance zero de ele não ser candidato! Pedro Paulo é candidato e vai vencer as eleições", afirmou o prefeito à revista Época. "Nunca me importei com a vida pessoal e familiar de ninguém", disse.

 

Em uma semana marcada por protestos a favor dos direitos das mulheres em várias cidades do Brasil, as grotescas declarações do pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro são a lembrança de que ainda será preciso muita luta para que a violência contra a mulher deixe de ser "coisa de casal".

Enquanto esse tipo de agressão for algo considerado justificável em qualquer medida, mulheres continuarão morrendo.

HuffPost Brasil | De Ione Aguiar