A saúde nossa de cada dia
A saúde é o bem mais precioso de todos nós. Eu já passei por cada uma para cuidar dela...
Tempos idos, quando a medicina era coisa rara de se ver nos rincões brasileiros, o povo tratava a saúde como podia. Para cuidar das doenças que mais lhe afligia, a população recorria a três opções de tratamento: procurar a medicina natural (vulgo os remédios do mato), pedir ajuda à benzedeira do bairro ou ir à farmácia mais próxima da região.
Remédio natural
Como o povo não fiava muito na medicina tão distante deles, sempre alguém sabia indicar um cristão que mexesse com remédios naturais: garrafada de todas as raízes possíveis, lambedor de lascas de paus, mastruz com leite, banha de galinha, purgante de tudo que é jeito, chás da vovó (de boldo, de alecrim, de arnica, de malva) e todo e qualquer tratamento ao alcance da cura. Por exemplo, panquecas de banana verde ou chá de caroço de abacate aliviava diarreias volumosas. Tudo ensinado com muito zelo e confiança, ou comprado de quem imaginávamos saber o que estava fazendo.
“Eu te benzo, eu te curo...”
Caso a medicina natural não resolvesse a enfermidade, recorria-se à benzedeira como solução aplicada. Tratava tudo de todos: benzia para tirar olho gordo, fechava peito aberto, levantava arcas e espinhela caídas, tratava fogo-selvagem, protegia recém- nascido de mal olhado, amarrando uma fita vermelha no pulso da criança; tirava quebrante ao benzer o sujeito com uma rama verde. Uma reza braba repelia encosto ruim e outras pragas psicoespirituais. O pagamento era o que a pessoa benzida podia dar: uma galinha caipira, uma quarta de café e açúcar, roscas de goma, bolo de puba, um capão bem gordo, um molho de feijão verde e espigas de milho, uns beijus de farinhada...
“É bom e não faz mal”
Aí vieram as farmácias com prateleiras de porções, pomadas, pílulas e injeções de esperança às moléstias do povo. Os produtos à venda eram clássicos populares que medicaram diversas gerações. Para as dores de cabeça tomavam-se os comprimidos Cibalena e Anador. Contra espinhas e cravos o povo lambuzava-se de pomada Minâncora. Se quisesse limpar o sangue, tratar hemorroidas e varizes, era só tomar Castaniodo (“Só burro não toma Castaniodo”). Dores de estômago, gases e cólicas intestinais, elixir Paregórico no bucho do sujeito. Buclina era remédio para magrelo engordar (nunca deu certo comigo!). O antisséptico Merthiolate ardia antes mesmo de aplicado na ferida (remédio dos diabos, espátula do cão!), assim como a Tintura de Iodo (outra invenção ardilosa/ardelosa do coisa-ruim). Pomada Beladona servia de alívio às coceiras e edemas (des)conhecidos. Contras as dores musculares nada melhor do que o Emplastro Sabiá. Pílula-Contra era laxante e purgante ao mesmo tempo (tchau, pregas!).
No fim das contas...
Mas há males que nem mesmo a farmacologia moderna, as benzedeiras do povo e os remédios do mato não deram jeito de curar: o Transtorno de Politicagem Eleitoreira, a Preguicite Aguda de Trabalhar, a Febre do Cidadão de Bem (sendo mal), a Síndrome da Malandragem Adquirida e outras doenças biopsicossociais.
É claro que na minha história pessoal tomei remédios do mato, fui às benzedeiras da vida, comprei os medicamentos das farmácias locais... O que não mata, engorda: nem morri, nem engordei.
Preciso de um médico!
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