Funcionários da Maternidade Dona Evangelina Rosa (MDER), em Teresina, denunciam a falta de medicamentos e insumos na unidade. Uma técnica em enfermagem contou que já foi preciso improvisar fraldas com lençóis e sacos de lixo e que os profissionais chegam a custear materiais por conta própria.
A Secretaria estadual de saúde do Piauí (Sesapi) publicou, na terça-feira (1), portaria comunicando que, devido à superlotação, o atendimento na MDER será restrito pelos próximos 60 dias, ou seja, até 1º de agosto.
Procurada, a assessoria da maternidade afirmou que a unidade está abastecida e não há problemas com a disponibilização de materiais.
Contudo, um enfermeiro da maternidade, que não quis ser identificado, relatou que faltam materiais como luvas de procedimento, papel toalha, bombas de infusão e protetores gástricos.
Uma técnica de enfermagem, que também não quis ser identificada, disse que funcionários já precisaram organizar "vaquinhas" e custear despesas que seriam de responsabilidade da MDER.
A profissional afirmou que dois aparelhos de ar condicionado utilizados na maternidade foram pagos por funcionários. "Juntamos dinheiro para comprar e colocar no nosso espaço de repouso porque sofríamos com o calor", afirmou.
"Muitas vezes precisamos de coisas básicas, como fixador de tubo orotraqueal, produtos de higiene pessoal, fraldas. Às vezes a gente até pede doações para pacientes que estão entubadas e precisam de um tratamento mais específico", relatou.
"Quando a família pode, ótimo. Quando não, porque são famílias carentes, a gente tem que se virar e tirar do próprio bolso ou improvisar. No caso de fraldas, já improvisamos com lençóis e sacos de lixo”, completou.
Estrutura precária
Os funcionários também denunciam a situação de alguns banheiros da maternidade (foto acima). Segundo os profissionais, a ausência de portas dificulta o despejo de materiais contaminados e até mesmo secreções ou dejetos.
Os profissionais afirmam ainda que parte do material utilizado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) materna é compartilhada com o setor em que pacientes com Covid-19 recebem tratamento.
Sem isolamento ou produtos de higienização, pacientes e trabalhadores ficam mais sujeitos à contaminação com o vírus.
"O pouco que ainda tem no setor de insumos e medicamentos é dividido com a UTI Covid, os equipamentos ficam de lá pra cá. Nossa UTI materna fica ilhada do lado da UTI Covid materna, na frente da UTI Covid neonatal e do outro lado são as enfermarias Covid. É um perigo”, contou uma funcionária.
Atendimento restrito
Desde terça, até 1º de agosto, a MDER atenderá apenas gestantes com o perfil de médio e alto risco. Durante esse período, a maternidade acolherá, orientará e referenciará as gestantes que procurarem a unidade por demanda espontânea.
Segundo a Sesapi, a superlotação na unidade é ocasionada pela chegada de pacientes não regulados pela rede estadual e que pode causar prejuízo para os atendimentos de média e alta complexidade atendidos pela unidade.
O órgão afirmou que a medida ajudará a reforçar o papel dos municípios em qualificar suas ações do pré-natal, os pontos de atenção e referenciação de pacientes, de acordo com o que é definido no processo de regulação estadual.
CRM constatou superlotação
O Conselho Regional de Medicina (CRM-PI) informou que durante vistoria, realizada em abril deste ano, constatou-se a proximidade entre os setores e alto risco de disseminação do vírus.
Na época, o Conselho flagrou a falta de medicamentos importantes para mães e bebês. Segundo o CRM, a ausência dos produtos permanece e ocorre devido à superlotação na maternidade.
Na sexta-feira (28), técnicos da MDER participaram de uma reunião de apresentação do projeto de uma nova maternidade, construída pelo Governo do Estado, por meio da Sesapi.
A obra está em andamento e deve ser concluída no segundo semestre de 2021, com o objetivo de otimizar o atendimento de gestantes na região.
Fellipe Portela
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