Dona Maria e Seu José são chamados pela diretora da escola para falar do filho deles, um aluno da 4ª série.

            – Senhores pais, chamei-os aqui porque o filho de vocês está dando muito o que falar aqui na escola.

            – O que aconteceu desta vez? Responderam os pais do menino-santo a uma só voz.

                        – Bom, Dona Maria, é que seu filho anda operando façanhas pelo colégio: ele tirou a miopia de uma aluna usando barro e saliva, sarou a ferida de um colega de turma e hoje ele transformou a água do bebedouro em achocolatado na hora do recreio!

            – Sabe, senhora diretora, é que nosso filho Jesus de Nazaré é um menino muito, muito especial, disse Dona Maria em defesa de seu rebento amado.

            – É verdade, interveio Seu José. Outro dia levamos Jesus para conhecer a universidade, o perdemos de vista e fomos encontrá-lo dando lições aos mestres e doutores de lá.

            – Sim, eu ouvi falar deste episódio, a diretora respondeu.

            – Pois é, Jesus é muito estudioso, disse Dona Maria. Ele adora contar parábolas, não é muito de escrever. Os amiguinhos Mateus, Marcos, Lucas e João é que registram suas histórias. Jesus já leu o Antigo Testamento umas mil vezes, a senhora me acredita!?

            – Sim, mas o problema é que Jesus arrasta multidões por onde passa e a escola está ficando alvoroçada com tudo isso, advertiu a diretora.

            – Sabemos disso, diretora, garantimos que Jesus não faz por mal. Ele é um menino bom, ajuda todo mundo, é capaz de dar a vida por cada um de nós... Vai pro céu em vida, desabafa Seu José.

Fé na escola

            – Vejam bem a minha situação, lembrou a diretora: outro dia Jesus tumultuou a aula de natação quando ele começou a andar por sobre as águas e todas as crianças queriam fazer a mesma coisa, pode isso, Seu José!?

            – Concordo com a senhora, mas quando a merenda da escola acabou, foi Jesus quem pegou cinco pães e dois copos de suco da cantina e multiplicou tudo, sobrando merenda para o ano letivo inteiro, não é verdade!? Interpelou Seu José.

            – Sim, realmente não posso negar que Jesus de Nazaré é o aluno que salvou a todos nós nesse dia... Só peço aos senhores mais discrição nas ações de seu filho na escola.

            – Jesus vai receber alguma advertência ou suspensão por essas ocorrências? Indagava Seu José.

            – Não se preocupem, ninguém vai crucificar o seu filho por isso!

            – É mesmo!? Respondeu Dona Maria, desconfiada. Tudo bem, nós falaremos com Jesus.

A Boa Nova

            – Ah, antes que eu me esqueça, nesta semana o prefeito Pôncio Pilatos e o secretário de educação Caifás irão inaugurar a quadra de esportes de nossa escola e Jesus fará um discurso sobre... – a diretora mexe em papéis avulsos – achei: Jesus vai falar sobre uma notícia nova, boa... Uma Boa Nova, assim ele me disse.

            – Mas será que essas autoridades não vão se zangar com o discurso da Boa Nova de nosso filho Jesus? Quis saber José.

            – Que nada, disse a diretora, daqui a dois mil anos ninguém nem vai mais se lembrar disso!        

            – Será? Perguntou Maria, cheia de graça.