Intervenções no Açude e impacto ambiental
Desde o início da obra de revitalização do açude grande de Campo Maior tenho ouvido algumas pessoas alertando sobre uma possível catástrofe ambiental. As medidas de restauração que a prefeitura está realizando são vistas por alguns como um tipo de agressão e atentado contra o açude grande. E o grande alarde deles é: “estão matando o açude grande!”. Eu acho válida essa preocupação, desde que seja realmente uma preocupação com o açude, e não uma preocupação com o futuro político de algumas pessoas que temem que a realização dessa obra imortalize o nome do prefeito Paulo Martins, ao mesmo tempo em que sepulte de vez alguns políticos profissionais que ainda teimam em tentar tomar o poder.
É bom lembrarmos que o nosso açude já sofreu várias intervenções, inclusive intervenções bem maiores do que a atual. Vamos aos fatos históricos:
A primeira grande ação realizada em nossa aguada aconteceu em 1859. Neste tempo ainda não existia o açude grande, na verdade, foi em 1859 que o açude grande nasceu. Antes disso, os registros históricos apresentam uma gigantesca lagoa, afastada do centro da vila, em área urbana, mas bem próxima do povoamento. O açude surgiu a partir de ordens imperiais, que procuravam de alguma forma combater as secas que assolavam o nordeste. Dessa forma, dentre outros, foi ordenado a construção de um açude em Campo Maior.
O local escolhido foi a nossa grande lagoa, que passou a ser cercada por paredões de terra (bem menores do que os atuais), para conter a água em tempos de verão e seca. A obra foi arrematada e executada por Jacob Manoel de Almendra naquele ano. Essa foi uma obra de grandes proporções e que mudou todo o panorama geográfico, interditando a passagem da água da lagoa grande, que descia rumo aos riachos Canudos e Pintadas. Esse elo foi interrompido quando as primeiras paredes do açude (local onde passa a BR 343) foram edificadas. Imagine o leitor que esse fato seria considerado hoje um desastre ambiental sem precedentes pelos mais alarmantes. Se isso fosse realizado hoje, teríamos as mais catastróficas previsões sendo anunciadas na cidade. Porém, a intervenção realizada em 1859 fez nascer o nosso majestoso açude grande e nenhum desastre ambiental aconteceu.
Essa obra foi tamanha, que pôs fim a lagoa da vila, além de diminuir seu tamanho consideravelmente. Porém, essa obra foi essencial para que o povo campo-maiorense pudesse suportar as grandes estiagens. Não podemos esquecer que a população de Campo Maior consumia a água da lagoa (depois do açude grande) para beber e para os mais variados fins. A obra foi para realizada para o bem estar da população da época, visto que era extremamente necessária que a água fosse armazenada em períodos de grande estiagem.
Então, o que estava matando o nosso açude: o que estava matando nosso açude grande era a poluição secular que se acumulava e se multiplicava a cada ano. O que estava matando o açude era a inércia do poder público em não fazer absolutamente nada para impedir que mais poluição fosse despejada em sua bacia. O que mata (matava!) o açude é a falta de vontade política, a falta de iniciativa, o vazio de ideias dos muitos políticos que já tiveram a oportunidade de sentar na cadeira do administrador e nada fizeram, senão continuar e até contribuir para que o açude padecesse.
Porque se levantar e alardear contra a gestão que está tendo a coragem de limpar o açude? Porque um frenesi tão grande? Porque não se levantaram antes, quando o açude era poluído dia e noite? Porque se levantar contra quem deseja limpar e promover uma mudança radical, benéfica, à nossa mais bela paisagem? Meu querido leitor, não seja tolo, o açude grande não vai morrer. Pelo contrário, ele está sendo salvo e isso tem provocado o desespero de políticos oposicionistas do prefeito, que a todo custo querem embargar a obra. Porque? Porque se conseguirem paralisar a obra de limpeza do açude o prefeito será politicamente enfraquecido, pensam eles.
Mas se o leitor deseja mais provas de que a atual obra não é nada comparada à outras intervenções, aí vai mais alguns dados históricos: no final da década de 1970, no governo do prefeito Mamede Lima, o açude mais uma vez foi dramaticamente afetado. Mamede Lima teve a ousadia de cortar o nosso açude no meio, criando então a Alameda Dirceu Arcoverde, a longa via que tem início na lateral do Iate Clube e segue até encontrar com a BR 343. Além de dividir o açude em dois, Mamede Lima também diminuiu o alcance das águas, que em alguns trechos quase que chegava à Avenida Santo Antonio. Muitas residências que hoje estão às margens do açude ocupam um lugar onde antes era área do açude. O açude morreu por isso? Responda o leitor! Obviamente que medidas como essa podem afetar a vida do açude se não forem tomadas providências apropriadas para sua proteção, e isso ocorreu realmente porque muito da poluição que hoje está sendo retirada do açude, foi lançada dentro dele oriunda das casas e das churrascarias em sua volta. Mas a intervenção que o açude sofreu pelo prefeito Mamede Lima não o matou.
Vale lembrar também que cada intervenção que o açude sofre há um tipo de agressão. Algumas agressões, contudo, são bastante benéficas e até essenciais para sua preservação. De modo nenhum quero tomar o lugar de ambientalistas, que são profissionais da área (aliás, a classe está dividida: alguns são contra e outros são favoráveis), porém, fato histórico é que nosso açude já sofreu, além das duas intervenções que citei, muitas outras, de grande e médio porte, com variados impactos ambientais. Mas olhando de uma perspectiva histórica, nenhuma dessas obras matou o nosso açude. Aliás, a inércia política, a ação degradantes da própria população, foram muito mais agressivas e maléficas ao nosso açude do que as intervenções que ele já sofreu pelo poder público.
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