Tudo o que Viviane fazia nesta vida era pensando na morte.

Acordava e logo o primeiro pensamento era: será que é hoje o dia que eu vou morrer?
Isso desde novinha, nem lembra mesmo quando este medo do fim tivera início. Achava que fora em algum episódio de sua infância, mas não saberia precisar exatamente em que momento ela começou a ter a morte como inimiga. 
Ela odiava a morte, mas sem perceber transformou-a na sua eterna companheira, e sofria sem se dar conta.
Se tomava banho pensava: vou ficar limpinha pra quando ela chegar.
Se trocava de roupa pensava: esta roupa esta ótima pra quando a morte chegar.
Se ia passear pensava: será que a encontrarei neste passeio?
Se fazia uma faxina a casa pensava: vou deixar bem limpinha porque se eu morrer, o velório será aqui e então já estará tudo pronto, só esperando.
E ficava imaginando de que forma morreria, como seria a cara da Morte, o que sentiria na hora, como seria sua reação ao se encontrar com ela face a face.
Se assistia TV e via nos noticiários a noticia de alguém que morreu, ficava logo pensando: a próxima talvez seja eu!
E assim o tempo foi passando para Viviane...
Não casou porque não queria deixar o marido viúvo. Não teve filhos para não deixá-los órfãos. 
Deixou de ter amigos para não deixá-los tristes na hora da despedida. 
Deixou de viajar para não morrer longe de casa
Deixou de viver para esperar a Morte.
.Morreu em vida e não se deu conta.
Perdeu todas as oportunidades de sua vida, por medo de morrer.
Todas as suas conversas convergiam para esse tema, porque seu coração estava vazio de Vida e povoado de Morte.
Até que um dia a Morte veio e encontrou-a dormindo, e ela não teve tempo de conhecê-la, apenas de vivenciá-la.

Quantas pessoas vivem como Viviane, sem viver, com medo de morrer!