350 ANOS DE CAMPO MAIOR
Não é comum que eu me ausente de Campo Maior no dia 8 de agosto. Ontem, por conta do dever do magistério, tive que me deslocar para a cidade de Buriti dos Montes, distante cerca de 165 km de Campo Maior. A viagem aconteceu justo ontem, no aniversário da cidade. Contudo, aproveitei a viagem para observar os belos campos de Campo Maior, sua geografia, os rios que correm pela região, como o Poti. Enquanto percorria o caminho em direção a Juazeiro, Castelo do Piauí e depois Buriti dos Montes, fui refletindo na história mais primitiva de Campo Maior, na época em que as primeiras entradas de portugueses que desciam a serra da Ibiapaba com muito gado em direção ao Vale do Longá. Cruzei a fazenda histórica Abelheiras, antigo feudo dos Garcia D’Ávila, e passei próximo à fazenda Foge Homem, todas situadas nas imediações do rio Longá, e exemplos das povoações mais antigas de nossa terra. Na mesma região, adentrando mais profundamente na terra, encontraria outras fazendas antigas, como a Trabalhado e a Jatobazal, que estão mais encostadas na serra, nas proximidades do rio Longa.
As primeiras entradas na terra dos Alongases aconteceram bem cedo, no início da segunda metade do século XVII. Antes disso há registro da presença esporádica, pontuada, de alguns portugueses que se deslocavam pelo interior, deixando a rota tradicional do litoral. Mas essas foram entradas isoladas, não com o intuito de levantar currais. Holandeses e Franceses também estiveram presentes nos Alongases, mas jamais iniciaram qualquer tipo de colônia. Foram entradas exploratórias, rápidas. O transito na região se intensificou somente após 1650.
Em minha viagem pude observar o caminho aproximado que os portugueses fizeram quando começaram a cruzar os Alongases com mais freqüência, período em que os primeiros currais começaram a surgir. Os registros exatos são difíceis porque a região era praticamente desconhecida, contudo, foi anotado por pessoas que estiveram presentes na região, que alguns portugueses já levantavam fazendas de gado ali. A rota é impressionante, belíssima em sua formação natural, com campos a perder de vista, principalmente quando se aproxima do núcleo de Campo Maior.
Na viagem, enquanto observava a paisagem e refletia nessa história, pude perceber porque Campo Maior atraiu tanta gente e se tornou o fenômeno econômico do gado, tendo seu apogeu nos séculos XVIII e XIX. Os extensos campos para o pasto dos animais tornavam a região um lugar excepcional para a criação do gado. As terras, banhada por rios e lagoas, alem de linda, era altamente convidativa, prometendo ao português a certeza do lucro. Boa parte das primeiras manadas de gado de Campo Maior vinha da Bahia, mas sua rota de entrada não era o sul do Piauí. As manadas eram conduzidas pelos primeiros curraleiros numa nova rota pela Ibiapaba. Ao descer a serra, as manadas eram levadas em direção ao Longá, exatamente a mesma rota da estrada Campo Maior, Castelo do Piauí, São Miguel do Tapuio, Buriti dos Montes. Até a altura de Pedro II, pela serra, algumas entradas sugiram. Aquele setor foi ficando cada vez mais movimentados, num fluxo natural para o maranhão. Era um verdadeiro “corredor do gado”, a “rota do gado” que cruzava o Piauí.
Isso me fez pensar nos 253 anos que estão sendo comemorados este ano. A história nos faz entender que nossa região começou a ser povoada muito antes, pelo menos 100 anos antes dessa data. Os 253 fazem referencia a oficialização do povoado pela coroa portuguesa, quando o ato da inauguração da Vila aconteceu, em 8 de agosto de 1762. Claro que há uma história mais antiga anterior à vila. A própria igreja de Santo Antonio está completando 315 anos e sem dúvida, ates da igreja também existe uma história a ser pesquisada. A construção da igreja é a certeza de que havia fluxo humano considerável na região. Conforme apontei aqui (em mais detalhes no meu livro Campo Maior: Origens), proponho que Campo Maior, em toda a sua grande extensão, devido ao crescente fluxo de gente no corredor do gado, começou a ser paulatinamente povoada a cerca de 345 anos atrás, por volta de 1670. Parabéns Campo Maior!
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