MINHA CIDADE
Campo Maior - a começar pelo nome, já se ver que não estou falando de qualquer cidade, mas da melhor cidade, que tem os maiores e mais belos campos. Terra de Herois, terra de encantos. Foi ali que vivi a minha infância, que, diga-se de passagem, foi a melhhor infância que se pode ter. Por isso, talvez, eu seja uma apaixonada por ela, incondicionalmente apaixonada por ela.
Na minha cidade tem uma rua, que na minha infância era chamada Rua do Sol, mais tarde descobri que essa era uma “alcunha” da rua, pois, na verdade, ela tinha um nome oficial, o nome de um personagem importante para a nossa história... Mas na época eu achava lindo esse nome “Rua do Sol”... Eu ficava imaginando, na minha inocência, o que seria uma “Rua do Sol”. Será o lugar onde ele – o sol – dormia, quando ninguém mais o via, à noite?
Depois aprendi que o sol não mora em lugar algum, que ele nem dorme, que quando ele sai daqui vai para o Japão...
Então na adolescência – na época das paixões pueris – fiz outra descoberta muito importante, descobri que, tanto o Sol quanto a Lua, quando se escondem, só podemos vê-los com os olhos do coração.
Mesmo assim aquela rua para mim tinha um significado especial. Afinal ela tinha o dom de ser do sol. Ela tinha um nome romântico, misterioso e encantador; e, para mim, tinha conotações mágicas. Se eu tivesse o poder de denominar as ruas, elas seriam todas mágicas. Rua das Flores. Rua do Amor. Rua do Silêncio. Rua dos Sonhos Bons. Como existe o bairro dos Noivos, teria também a Rua dos Enamorados, Rua dos Afortunados...
Mas voltemos às ruas de minha infância... Eu me criei na Rua da Lagoa. Eu achava lindo aquele nome e amava minha rua. Todo mundo chamava carinhosamente de Rua da Lagoa, e confesso que eu não gostei, quando, certo dia o carteiro me entregou uma carta e nela estava escrito: Rua Maranhão. Não devia ter esse nome! Na minha rua não tinha nada que lembrasse o Maranhão... Mas no final de minha rua tinha realmente uma lagoa. E era naquela lagoa que eu e meus amigos, as crianças da vizinhança, íamos tomar banho escondido, era lá que dávamos mergulhos de ponta cabeça. Era lá que nossas mães iam nos buscar “embaixo de taca” porque a gente teimava em ir banhar na lagoa, mesmo contra as ordens delas. Todos nós passávamos por este vexame, mas logo que podíamos íamos de novo.
Semana passada, estando em Campo Maior, a Terra dos Carnaubais, vi um espetáculo maravilhoso. Vi o céu onde o sol se punha.... Vi nuvens cinzas, num céu azul de chumbo colorido com o amarelo avermelhado dos últimos raios, que se despediam de um domingo sereno. Vi os carnaubais de minha terra se sobrepondo à paisagem, dando um quê de sombrio e nostálgico ao final deste dia branco. Minha imaginação voou para outros fins de tarde.
Quantas vezes, eu, já adolescente, fui assistir ao por do sol às margens do açude grande, e ficava esperando para ver a lua que, do outro lado, vinha surgindo na imensidão do azul acinzentado das tardes amenas de minha juventude. Tudo numa sincronia perfeita. Na maior calma do mundo, a Lua esperava o Sol sair de cena numa beleza espetacular que só se pode ver às margens daquele açude, para então aparecer majestosa e redonda. Esplendorosa pairava sobre a imensa superfície das águas, que agora serviam de espelho para aquela vaidosa Lua, que consciente se sua beleza, naquele espelho refletia sua luz pálida enquanto os casais aproveitavam o cenário para fazer suas juras de amor!
Quantas juras eu ouvi ali... Quantas promessas eu fiz também... Não que fossem mentiras, na verdade, elas não valeram porque eram verdades ditas por culpa das circunstâncias, que com o passar do tempo perderam o prazo de validade e se esvoaçaram no vento que levou junto o eco de nossos sussurros juvenis. As palavras passaram, mas a beleza do local continua inspirando outros casais. E eu continuo apaixonada pelo sol, pela lua, pela vida e por Campo Maior!
Minha cidade é mesmo abençoada por Deus e bonita por natureza...
Minha cidade tem encantos tantos, que só ela sabe ter...
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