AOS VIVOS NO DIA DOS MORTOS
Finados, palavra derivada de FIM. Derivação sufixal que significa finalizados. Acabados. Terminados. Ou seja, dia de finados é um dia em que se homenageia as vidas que já chegaram ao fim. Homenageamos os nossos entes queridos que já não estão mais aqui.
É dia de lembrar com carinho aqueles que já nos deixaram, ou melhor, que nos antecederam e foram antes de nós ao encontro do Pai. Tanta gente querida! Quanta gente nos deixou, e quanta falta nos fazem...
Meu filho quando era pequeno dizia que este era o dia dos “afinados”. Na sua santa inocência ele dizia uma verdade, porque, pensando bem, os que já partiram estão agora em sintonia com Deus, como um instrumento de uma grande orquestra, estão afinados com a espiritualidade e entoam agora um hino de louvor ao Criador, mas talvez, já frente a frente com Ele e junto com outros tantos que compoem esta seleta e harmoniosa orquestra celeste.
Esse filho dizia também que iríamos visitar estas pessoas no “somitério”, que seria o lugar onde as pessoas se somem... Quanta sabedoria!... hoje vejo que ele tinha razão...Como vejo ainda que talvez a palavra “saudade” seja a tradução ou sinônimo de amor, ausência, solidão, falta... Só sentimos falta de quem amamos...
Talvez ainda possamos dizer que “fé” seja sinônimo de alento contra o desespero, que às vezes quer preencher o vazio deixado por aqueles entes amados, que nunca mais vimos depois que viraram “afinados” e foram deixados no “somitério” para compor a orquestra divina.
É muito bom ter um dia especial para estas pessoas amadas, apesar de serem lembradas sempre por nós... Eu por exemplo lembro todos os dias das pessoas que eu amo, veja bem, “amo” e não “amava”, pois o fato de terem morrido não quer dizer que deixaram de existir dentro de nós. Dessas pessoas eu me lembro todos os dias, e sinto falta, sinto saudades.
Às vezes choro sentido a sua ausência. E é tanta falta que chega a doer na alma. Outras vezes dou boas gargalhadas lembrando alguns fatos de nossa história juntos, lembrando de coisas ditas e de coisas que deveriam ter sido ditas e não foram. Talvez porque pensamos que as pessoas que amamos são eternas e não morrerão jamais.
Para estas pessoas é muito justo que haja um dia exclusivo para se dedicar a elas. No entanto, no meu pensar, dia 02 de novembro é um dia para homenagear os mortos e também para se refletir sobre a vida. Vida e morte são duas palavras antagônicas que não se separam, pois sempre que se fala em um, se remete ao outro, ja que a única certeza que remos nesta vida é que vamos morrer...
E neste dia especial dedicado aos mortos é também um bom momento para pensarmos em como estamos vivendo, ou se estamos levando a nossa vida, ou estamos apenas deixando a vida nos levar. Que legado deixaremos para os nossos entes que viverão depois de nós. E pensar também em como queremos ser lembrados por eles.
Pensar ainda em como estamos tratando as pessoas que vivem conosco, que estão ao nosso redor convivendo no dia a dia. Estamos demonstrando todo nosso amor e nossa gratidão? Quantas vezes economizamos afeto, carinho, respeito, abraços... e depois que se vão é que percebemos que poderíamos ter aumentado a dose, exagerado, e assim deixado o outro e nós mesmos mais felizes!
O comércio aproveita o nosso sentimento de amor e talvez de culpa por termos amado pouco, e sugere que levemos velas, flores, coroas e outros “presentes” para nossos falecidos, como se isso aplacasse nossa saudade ou redimisse nosso pouco amor. Tudo no intuito de aquecer as vendas. E mesmo sabendo disso eu entro no embalo e comppro flores, velas e coroas... Mas na verdade, a única coisa que podemos dar, e eles podem receber depois que se vão, é a nossa oração. Isso de acordo com a minha crença.
Crença é algo muito pessoal e cada um tem a sua. Prova disso é a piada que se conta (contar piada em dia de finados? Parece de mau gosto, mas vamos lá!) Dizem que um brasileiro e um japonês se encontraram no cemitério visitando as suas falecidas esposas. O brasileiro levou flores e o japonês levou arroz. Ambos depositaram amorosamente seus presentes sobre o túmulo de suas falecidas e amadas esposas. Fizeram suas orações e, quando já iam embora, o brasileiro para fazer uma gracinha disse: _ Amigo, que horas você acha que sua esposa vem comer o arroz que você deixou aí, pra ela? Ao que o japonês respondeu: _ Na hora exata em que a sua esposa vier cheirar as suas flores, meu amigo.
Ou seja, crença, cada um tem a sua. A minha é de que todas as velas, flores e coroas que eu ornamentar o túmulo dos meus entes queridos, só vai servir para alimentar o meu próprio sentimento, ou calar a língua dos outros que dirão talvez: _ como ele era amado. Olha só as flores que enfeitam seu túmulo! Porque na verdade isso não fará a menor diferença para os mortos. A diferença fará o carinho que eu der em vida. O amor, o respeito e o zelo que eu devo demonstrar enquanto estamos juntos...Depois de finados, tirando a oração, o mais tudo é ilusão!
Ana Maria Cunha
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