A IGREJA DE SANTO ANTÔNIO E SEUS TRÊS TEMPLOS
A freguesia de Santo Antônio do Surubim foi instalada entre os anos de 1711 a 1713. A data proposta por Eduardo Zielski (1715), último bispo de Campo Maior, é historicamente insustentável. Prova disso são as referências em correspondências dessa época apontando algumas pessoas que residiam na dita freguesia em 1713. Algumas pesquisas já foram realizadas sobre a história da igreja de Santo Antônio. A atual construção corresponde ao terceiro templo, erguido no mesmo lugar. O primeiro foi erigido pelos escravos de Bernardo de Carvalho em 1711. O segundo já estava sendo construído em 1779, pela Irmandade de Santo Antônio, conforme correspondência dos confrades dessa irmandade à rainha de Portugal, Maria I. O terceiro templo foi erigido na segunda metade do século XX, com suas obras iniciadas em 1944 e sua conclusão em 1966, tudo sob a direção do padre Mateus.
Em 2015, apenas um mês depois do lançamento do livro Campo Maior: origens, onde apresento documentação inédita sobre a segunda construção da igreja de Santo Antônio, e a prova inconteste da demolição do primeiro templo, a historiadora Natália Oliveira e a professora Dra. Alcília Afonso lançaram o excelente livro Da Matriz Vejo a Cidade: a igreja de Santo Antônio de Campo Maior, onde relatam, dentre outros aspectos apresentados na obra, um histórico da velha matriz. Infelizmente as autoras não tinham conhecimento da documentação portuguesa relativa à igreja, e não tiveram tempo de consultar minha obra, onde a documentação é descrita. As autoras defendem dois momentos para a igreja, cada um deles representado por um dos templos (no entender delas, apenas dois templos). O primeiro momento cobre mais de dois séculos (1711 a 1944). O segundo momento cobre os anos de 1944 a 1971. Meu desejo é desfazer de uma vez por todas esse mal-entendido, e afirmar, com provas, que a igreja de Santo Antônio segue em sua terceira edificação.
É importante ressaltar que o primeiro momento, conforme destacado pelas autoras, na realidade, corresponde a dois momentos. Nesse extenso recorte temporal, Campo Maior viu o soerguimento a primeira igreja e também sua demolição, que deve ter ocorrido por volta de 1788, ou data bem aproximada, mas não depois desse ano. Nesse caso, o primeiro momento representa os anos de 1711 a 1778, aproximadamente. O segundo momento começa logo em seguida, 1789/90 (provavelmente, ou mais adiante um pouco) e segue até 1944. O terceiro momento, levantado pelas autoras, corresponde em exatidão histórica.
Dessa forma, defendo o seguinte recorte: (1) Primeiro templo: 1711 – 1778. Corresponde à construção realizada pelos escravos de Bernardo de Carvalho; (2) segundo templo: 1779/90 – 1944. Correspondendo à construção capitaneada pela Irmandade de Santo Antônio da vila de Campo Maior, com recursos da coroa portuguesa, até sua demolição; (3) terceiro templo: 1944 – 1971. Esse é o atual templo e sua realização se deve aos esforços do padre Mateus Rufino.
Meu segundo momento, que era até então desconhecido até pela diocese, onde apresenta a construção do segundo templo, é o que pretendo demonstrar a partir de agora. Em 1779 a Irmandade de Santo Antônio, já bem organizada, escreve diretamente à Rainha de Portugal, Maria I, solicitando recurso para terminar a construção da nova igreja de Santo Antônio na vila de Campo Maior, isso porque a primeira, já demolida, não suportava o crescente número de fiéis. O texto apresenta o pedido como uma “esmola” e “ajuda de custo” requerido à Rainha para comunidade católica de Campo Maior. Segundo: a “esmola” solicitada tinha a finalidade de terminar as obras da nova igreja, que substituía a primeira, erguida à custa de Bernardo de Carvalho. A igreja, que já não era suficientemente grande para abrigar todos os fiéis da vila, foi demolida e a irmandade estava a buscar recursos para terminar o novo templo, erguido naquele período.
Conforme o teor da carta revela, esse templo que foi construído pela Irmandade de Santo Antônio é o segundo templo na história da edificação da igreja de Santo Antônio. O que se entendia até hoje era que o templo que o Padre Mateus demoliu em 1944, era o templo que Bernardo de Carvalho havia construído, e que a atual catedral era o segundo templo. Segundo a carta, o primeiro templo foi construído “a custa dos indivíduos da nova freguesia”, contudo, adverte que o primeiro templo era “formado de frágil material segundo a impossibilidade daqueles tempos com defeito de muito pequeno”. O templo construído em 1711 era muito mais um símbolo da presença portuguesa e da religião católica do que um santuário para receber um grande número de fiéis. Com a chegada constante de novos moradores às proximidades da igreja, e, principalmente, com a povoação se tornando vila de Campo Maior (1762), era de se esperar que a pequena igreja não fosse mais suficiente para acolher o crescente número de fiéis:
Hoje, pelo aumento do povo, com decência não se podia nele celebrarem os ofícios divinos, causas porque nós resolvemos acrescentá-lo e pô-lo em melhor formalidade para cujo efeito entramos no projeto de demolir o que existe para o devido fim, e posta em execução esta nova determinação nos achamos impossibilitados para o por na sua total perfeição e por isso nos necessitou de recorrermos a cristandade e real piedade de Vossa Majestade Fidelíssima.
Segue então a conclusão que a atual Catedral de Santo Antônio de Campo Maior é o terceiro templo construído. O primeiro templo, iniciado de 1711, muito pequeno, foi construído por custo de Bernardo de Carvalho; o segundo templo, de 1779, foi construído pela Irmandade de Santo Antônio, sendo concluído na primeira metade do século XIX. O terceiro templo foi construído sob a liderança do padre Mateus Cortez Rufino, quando ele autorizou a demolição do templo construído pela Irmandade, fato que aconteceu em 1944.
A terceira e mais importante observação que esse documento nos remete é o crescente aumento da população da vila. Na carta lemos que “Hoje, pelo aumento do povo...”, indicando que a vila já era muito povoada em 1779. O Surubim era o centro do norte piauiense. Só mais um detalhe: a reunião da irmandade, quando o documento foi redigido, aconteceu no dia 13 de junho.
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