VIVA A VIDA
A Morte e a vida andam juntas de mãos dadas, brincando de esconde esconde com a gente!
Ontem, sábado de carnaval fui impelida a fazer um percurso contrário ao que se espera num período de festas como este. Fui ao enterro de uma amiga. Ela fora chamada ao encontro do Pai em pleno vigor da vida, tão jovem quanto eu, tão cheia de vida quanto eu. De repente a Morte chegou e disse: _ Vamos! - Sim porque a Morte não pergunta, simplesmente chega e chama. Não espera resposta, não quer desculpas, não ouve lamentos.
Era uma pessoa simples em uma cidade pequena do interior e, como morasse perto do cemitério, a apenas umas cinco ou seis quadras, o cortejo com o caixão foi feito a pé. Apenas a família e os amigos mais próximos a acompanharam até o seu destino derradeiro. Em silêncio e respeito.
O céu nublado evidenciava uma chuva que poderia cair a qualquer momento, o que fazia aquele fim de sábado parecer tenebroso, triste, nostálgico. No entanto até a chuva, em respeito ao silêncio dos mortos não caiu de vez, apenas alguns pingos leves nos acompanharam também naquele cortejo fúnebre.
Na volta, enquanto percorria as ruas quase desertas, me encantei com a imagem de uma velha e enorme árvore seca, nem por isso menos bela que as outras ali ao redor. Parece que pensei alto, porque uma moça que vinha comigo e que é daquela cidade, começou a explicar que aquele esqueleto de arvore tinha sido uma enorme e frondosa mangueira, e que um dia, ou talvez uma noite, um raio caíra sobre ela e ela se transformara naquele espectro de tronco e galhos secos.
Fiz uma analogia àquele momento de reflexão em que eu estava mergulhada. A Morte e a Vida andam juntas de mãos dadas, brincando de esconde esconde com a gente! Não podemos nos iludir...
Afinal, a Vida é isso. A Morte chega e diz: _ Vamos! E nos colhe em pleno vigor, cheios de planos e metas. Cheios de vida e nos seca, nos tolhe a vida. Às vezes nem nos dá tempo para despedidas e testamentos.
Aquela mangueira, que pelo tamanho do tronco poderíamos ver que fora frondosa, devia estar, no momento de sua morte, cheia de flores e frutos, já que era inverno... Estava pronta para viver uns cem anos alimentando e dando sombra, mas a fatalidade não permitira e ceifara sua vida. Minha amiga também estava cheia de planos, queria muito ser feliz. Viajar, ver os filhos e netos, talvez iniciar um novo empreendimento, trabalhar, namorar, amar, sei lá!
Enquanto eu refletia sobre a Morte naquele fim de tarde, ao longe se ouvia o barulho dos blocos que iniciavam mais uma noite de festas e alegria, afinal é carnaval, e a Vida continua para quem está vivo. E Viva a Vida!
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