Depois de uma série de fracassos nas bilheterias e problemas nos bastidores que colocaram o futuro de sua grande saga cinematográfica em cheque, a Marvel foi atrás de seu próprio passado para tentar sair da sinuca em que se colocou.
Durante sua apresentação na Comic Con 2024, de San Diego, neste sábado (27), o estúdio da editora de quadrinhos fez dois anúncios cruciais para seu futuro nos cinemas.
O maior deles, é claro, é o retorno de Robert Downey Jr. ao Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês) como intérprete do Doutor Destino, grande vilão das HQs que deve aparecer nos próximos dois filmes dos Vingadores.
O personagem está no centro de "Vingadores: Doomsday", quinta aventura da equipe de heróis prevista para maio de 2026 e que substitui "Vingadores: The Kang Dinasty", cancelado depois da condenação do ator Jonathan Majors por agressão à ex-namorada.
A outra grande novidade — que nem é tão nova assim — é a confirmação da volta dos irmãos Anthony e Joe Russo como diretores de "Doomsday" e de "Vingadores: Guerras Secretas", previsto para maio de 2027.
O que isso significa ?
Os anúncios significam basicamente que a Marvel entrega seu futuro a alguns dos principais responsáveis pelo seu sucesso, pessoas que há não muito tempo anunciavam suas próprias aposentadorias do MCU.
Downey Jr. pode ser considerado o maior deles ao dar o pontapé inicial à saga com o primeiro "Homem de Ferro" (2008) e sustentar a espinha emocional dos Vingadores.
Com um final à altura em "Ultimato" (2019), ele dizia que não voltaria a Tony Stark e, no meio tempo, ganhou um Oscar por "Oppenheimer" (2023).
Já os irmãos Russo partiram para produções próprias depois de comandarem quatro dos maiores hits do estúdio, entre eles os dois últimos "Vingadores".
Por que a Marvel fez isso?
Com quase US$ 30 bilhões arrecadados em seus 33 filmes ao redor do mundo (sem contar o recém-lançado "Deadpool & Wolverine"), a Marvel não está acostumada com o fracasso.
Mesmo assim, atravessa um dos momentos mais turbulentos de sua jovem história. Com poucas exceções, como "Homem-Aranha: Sem volta para casa" (2021), a Marvel coleciona derrotas desde a pandemia.
Para piorar, apostou quase todas as suas fichas em uma fórmula com realidades paralelas — o tal "multiverso" — que alienou boa parte do público e em um vilão intimamente ligado ao conceito, Kang, com um intérprete que em pouco tempo se tornou tóxico.
Com um elenco encabeçado por Pedro Pascal, um dos atores mais populares de Hollywood, o filme do "Quarteto Fantástico" é uma luz no fim do túnel, tanto que foi uma das estrelas da Comic Con com o anúncio do subtítulo "First Steps" (ou "Primeiros passos", em tradução livre).
Com uma história ambientada em um universo diferente ao principal do MCU, a aventura da "Primeira Família" da Marvel oferece a oportunidade perfeita para a introdução sorrateira de seu grande vilão, sem dúvidas um dos maiores das HQs, com um rosto já conhecido por trás da máscara.
É uma boa ideia?
Se Downey Jr. não tivesse recuperado sua carreira como Tony Stark, seria objetivamente uma escolha excelente para o egocêntrico e genial Victor Von Doom/Doutor Destino. Ironicamente, sua interpretação o gabarita ainda mais.
Mais do que isso, por mais que alguns considerem a escolha de um "aposentado da Marvel" apelativa e pouco inspirada, o ator é de longe o nome mais conhecido e celebrado pelo público geral, muito além dos obcecados.
Sua presença como vilão é garantia de salas lotadas, mesmo que os filmes não tenham a qualidade de outrora. Com ele, os próximos "Vingadores" são oficialmente grandes demais para não darem certo.
E os irmãos Russo já provaram quatro vezes que sabem trabalhar como poucos com a empresa, um estúdio conhecido por dar pouca liberdade autoral para seus cineastas.
Com o sucesso da estreia de "Deadpool & Wolverine", que se encaminha para a maior arrecadação de um fim de semana de lançamento para um filme para maiores de idade nos Estados Unidos, e os anúncios na Comic Con, a Marvel teve seu melhor fim de semana desde 2019.
É meio engraçado, porque a estreia dos mutantes no estúdio também tem o retorno do aposentado Hugh Jackman, que iria pendurar as garras em "Logan" (2017). Na história, Ryan Reynolds repete diversas vezes que o australiano vai ser explorado "até fazer 90 anos".
O aviso também pode servir para outros. Falta saber até quando a Marvel vai conseguir apelar para o passado para salvar seu futuro.
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