Facebook
  RSS
  Whatsapp

  12:44

ENVENENAMENTOS: Texto faz análise sobre possível julgamento precipitado de idosa nas redes sociais

 

A FOGUEIRA DAS REDES E AS NOVAS BRUXAS.

 

Em agosto de 2024 uma mulher com mais de 50 anos teve seu nome divulgado em rede nacional em matérias que afirmavam que ela teria envenenado duas crianças, 7 e 8 anos,  através da doação de cajus manipulados com veneno. 

 

Ela foi presa em flagrante, logo após o crime enfrentou a audiência de custódia e teve a prisão preventiva (sem data específica para sua soltura) decretada, após foi conduzida até a penitenciária mista da cidade de Parnaíba, Piauí.

 

Segundo “informes”, a vizinha Lucélia era a principal suspeita, pois já teria envenenado animais e teria “desavenças” com a vizinhança. 

 

A polícia investigativa constatou que as vítimas foram envenenadas, 

Lucélia negou a autoria do crime. Os cajus não foram periciados. 

 

A lei prevê, em casos dessa natureza e que o investigado está preso, que a investigação seja concluída em até 30 dias podendo ser prorrogado de forma justificada e por tempo RAZOÁVEL.

 

Lucélia está presa há mais de 100 dias, sem resultado de qualquer perícia nos cajus que ela teria doado e que teria sido o meio para o envenenamento. 

 

O fato, da forma narrada, configura homicídio qualificado, classificado como  crime hediondo com pena que poderá ultrapassar os 30 anos de prisão.

 

Populares e vizinhos, de forma sumária, incendiaram a casa de Lucélia e pediam sua morte.

 

Nas redes sociais, o justiçamento realizado por muitos também pedia a morte de Lucélia.

 

Ocorre que no primeiro dia do ano em curso 09 pessoas, familiares das duas crianças foram envenenadas, a mãe e outros dois filhos dela faleceram. 

 

E agora, teria sido a vizinha? 

Além de estar presa, o veneno dessa vez não estaria em cajus.

 

Inicialmente, segundo informes na internet, a causa poderia ter sido pela ingestão de peixes que haviam sido doados, porém os doadores seriam pessoas idôneas (Lucélia era “encrenqueira”), o que impediu uma prisão em flagrante. 

 

Segundo as autoridades, todos os nove membros da família teriam ingerido um arroz contaminado que foi preparado na casa da própria família, e este, foi cuidadosamente induzido para o consumo. As autoridades, dessa vez, falam em CRIME DE ÓDIO, como motivação, do pater familiar contra todos os entes daquele núcleo.

 

O homem foi preso e apontado como autor dessa tragedia. 

Ele nega! 

 

Na data de hoje, em divulgações tímidas, há a notícia que o promotor que atua no caso, opinou pela soltura de Lucélia, não descarta que ela matou as crianças, mas entende que ela deve ser posta em liberdade. 

 

Lucélia, culpada ou inocente, já queimou na fogueira das redes, por mais que seja inocentada, ficará nos grupos de WhatsApp, nas redes, que não podem ser apagadas, rasgadas ou queimadas, seu nome permanecerá como assassina para muitos que não tiverem acesso ao desfecho final. 

 

Mesmo não havendo registro formal, alguns bradam que houve confissões nos momentos das prisões. Lembremo-nos, que, na santa inquisição, pessoas com o laço do enforcamento no pescoço tinham a chance de confessar e “serem salvas”. 

 

No desespero, muitas confessavam e esperavam que o laço fosse tirado, no entanto, como único consolo, ouviam que a confissão livraria a alma do inferno, não do enforcamento.  

 

 

Esse caso não é isolado na sociedade, tanto no possível erro como no justiçamento social através das redes, basta uma simples leitura nos comentários das matérias policiais, em grafias, muitas vezes mal redigidas, pede-se pena de morte e entoa-se a máxima “BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO”.

 

Diferentemente da idade média, em que o corpo era queimado de uma única vez, e, apesar de doloroso, tirava-se a vida naquele ato, nos dias atuais, as redes queimam aos poucos, diariamente, com as chamas acesas e com a velocidade de um click, deixando a pessoa viva mas matando-a lentamente até o desencarne.

 

ubi non est justitia, ibi non potest esse jus

 

O texto é assinado pelo advogado Campomaiorense Hartonio Bandeira.

Mais de Blog da Redação