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  16:39

'Não conheço as músicas do rapaz. Tenho bom gosto', diz Nunes sobre projeto 'anti-Oruam'

 Foto: Reproduções

O rapper Oruam, que atualmente tem a música mais ouvida do Brasil no Spotify, com "Oh Garota Eu Quero Você Só Pra Mim", virou alvo de um projeto de Lei na Câmara Municipal de São Paulo, a chamada "Lei Anti-Oruam" - que pede a proibição na contratação de shows, artistas e eventos abertos ao público infantojuvenil "que envolvam, no decorrer da apresentação, expressão de apologia ao crime organizado ou ao uso de drogas".

O projeto é da vereadora do União, Amanda Vettorazzo. No texto, ela não cita o Oruam, no entanto, criou um site chamado leiantioruam e, em vídeos nas redes sociais, deixa claro que quer proibir o artista de se apresentar em São Paulo. (leia mais abaixo)

Ricardo Nunes (MDB) que participava de um evento para anunciar investimentos voltados para a Cultura nesta segunda-feira (10), foi questionado sobre o projeto da vereadora. Ele defendeu e disse que não conhece Oruam.

"Pra você ver que eu tenho um bom gosto pra música, nunca ouvi a música desse cara [Oruam]. Pelo que vi, ela questionou sobre uma pessoa, não sobre a questão cultural. Seria até injusto colocar pra vereadora como se ela estivesse fazendo qualquer tipo de ação contra o funk ou qualquer outro tipo de expressão cultural. Aquela pessoa especificamente que ela tem colocado - evidentemente - se essa pessoa faz qualquer tipo de apologia ao crime, aqui nos palcos de São Paulo, com recurso público, ela não vai ter espaço", afirmou.

A Prefeitura de São Paulo anunciou R$ 319 milhões de recursos voltado para a cultura na capital, valor que faz parte do pacote São Paulo + Cultura.

Quem é Oruam?

Figura carimbada nos principais festivais do país, Mauro Davi dos Santos, de 25 anos, tem mais de 13 milhões de ouvintes só no Spotify. O cantor passeia pelo funk, R&B e rap. Suas músicas falam sobre ostentação, sexo e o fato de ele ser filho do traficante Marcinho VP.

Em 2024, se firmou de vez como um dos rappers mais promissores do trap. Mesmo ano em que subiu em um dos palcos do Lollapalooza e pediu liberdade pelo seu pai, preso por crimes como homicídio qualificado, formação de quadrilha e tráfico de drogas.

O projeto de lei da vereadora do União

Em um vídeo publicado no Instagram Amanda Vettorazzo (União) diz que quer "proibir o Oruam de fazer show na cidade de São Paulo".

Ela alega que Oruam é "um dos rappers mais famosos do país que viralizou fazendo músicas e shows com apologia ao crime organizado, principalmente a facção comandada pelo seu pai Marcinho VP".

Vettorazzo diz também que o jovem "abriu a porteira para que rappers e funkeiros começassem a produzir músicas" citando criminosos, líderes e facções e "usando gírias e expressões para normalizar o mundo do crime".

No vídeo, Vettorazzo mostra um print da música "Mãe de Traficante", do Mc Daleste, que foi assassinado em 2013, que narra justamente a história de uma mãe que perdeu o filho para o crime.

Ela também criou um site, leiantioruam.com, onde diz que o projeto visa proibir o financiamento público de eventos que promovem apologia ao crime, ao funk criminoso e o uso de drogas.

"A lei necessariamente tem de ser impessoal. Dessa forma, não cabe qualquer utilização de nome no corpo da lei. A escolha do nome alusivo se dá por duas razões: pela constante apologia ao crime organizado que Oruam faz em seus shows e também para chamar a atenção da população sobre a importância ao combate ao crime organizado e às drogas, que se faz não apenas com balas, mas também no imaginário. Esse último item é tão relevante que é só observar o óbvio: o Oruam é o grande responsável por transformar o CV em trend no TikTok. Quem não percebe como isso é danoso é no mínimo ingênuo", disse a vereadora ao g1.

No texto do projeto de lei Vettorazzo argumenta que a proposta surge como uma forma de garantir à proteção de crianças e adolescentes.

Perseguição ao funk

Apesar de a maioria das suas músicas seguirem o gênero trap, Oruam também canta funk. No último ano, em 2024, a Câmara de SP recebeu três projetos de lei - dois sob a autoria de Rubinho Nunes (União), mesmo partido de Vettorazzo - que visam proibir o funk de rua na capital.

•Fev/2024 - projeto para criar uma frente parlamentar de combate aos pancadões e bailes funks na capital (arquivado em janeiro deste ano)

•Maio/2024 - proíbe a utilização de vias públicas, praças, parques, jardins e demais logradouros públicos para a realização de pancadões, bailes funks e eventos sem autorização (também arquivado em janeiro deste ano)

Para Ediane Maria (PSOL), deputada estadual e coordenadora da Frente Parlamentar do Funk na Alesp, projetos como a chamada "Lei anti-Oruam" são uma forma de criminalizar gêneros musicais.

“Sempre que um movimento cultural de preto ganha destaque, a ala conservadora vem pra cima para criminalizar. Foi assim com o samba e o rap, com o funk não seria diferente. A juventude está na quebrada fazendo música, mas também mobilizando a economia criativa. Querer associar esse movimento ao crime é uma manobra racista da extrema direita", afirma.

Apesar da "lei anti-Oruam" não citar o funk e o rap, para Ediane é uma forma velada de criminalização.

"Eles não são bobos. Ao mesmo tempo em que criminalizam o funk, sabem o quanto o movimento, além de causar identificação com os jovens, gera dinheiro na quebrada e influencia politicamente a quebrada", afirma

Questionada pela reportagem do g1, Amanda Vettorazzo afirmou que o projeto de lei não possui relação com gênero musical. Portanto, qualquer cantor seria devidamente responsabilizado e punido em caso de apologia ao crime durante eventos financiados pela gestão municipal.
 

Fonte: G1

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