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  18:04

Brasileiros relatam estratégias para evitar agentes da imigração nos EUA; ENTENDA

  Foto: Getty Images via BBC

Os relatos de imigrantes que vivem nos Estados Unidos e que temem serem pegos pela imigração por estarem em situação irregular são parecidos: pessoas sem sair de casa, crianças sem ir para escola, grupos de sentinelas observando a movimentação dos agentes da Imigração e Alfândega dos EUA (ICE).

"Tem dias que dá uma minimizada na polícia, tem dias que é 'caô'", diz um imigrante que vive na Flórida e preferiu não se identificar. Ele afirma que mantém comunicação, pelo aplicativo de mensagem WhatsApp, com grupos de imigrantes, que passam informação em tempo real sobre as ações do ICE.

O brasileiro, que trabalha na área de construção civil, tem dois filhos no país e teme ser deportado por estar "sem status", isto é, sem permissão legal para estar no país.

"Já parou [ICE] na frente de um condomínio de um amigo meu e pegou uns dois, três lá", detalha. "Está fazendo muito medo na gente por aqui. Está todo mundo com medo. Não tem como você andar, muito complicado, muito tenso", afirma.

O maior temor dele — que chegou a deixar de para o trabalho alguns dias — é de ser separado dos filhos caso seja deportado e eles não.

"O medo é deixar as crianças para trás. Com quem vão ficar as crianças? São poucas as pessoas que a gente conhece. Se eu for pego, não dá para pedir um americano para pegar", argumenta.

Ao menos 11 mil imigrantes ilegais, incluindo brasileiros, foram presos desde o início do governo de Donald Trump, segundo a Casa Branca. Os últimos dois voos de repatriados que chegaram ao Brasil, juntos, somam 199 pessoas.

Ajuda financeira

André Simões é gerente de projetos em uma das maiores organizações sociais de Boston, a Brazilian Worker Center. Ele conta que a entidade tem recebido muitas ligações com pedidos de ajuda, inclusive de ajuda financeira.

"As pessoas não estão indo trabalhar e quando elas não vão trabalhar, porque a maioria dos trabalhos é por hora, e isso a afeta bastante toda a comunidade", detalha.

"A comunidade está com muito medo e ficando em casa mesmo. Essa é a primeira medida de proteção, de ficar em casa, não sair", pondera.
Ainda segundo ele, o aplicativo de mensagens é usado para disparar alertas quando imigrantes avistam agentes do ICE em alguma região.

"A comunidade usa muito WhatsApp para se comunicar, então a gente sabe onde tem grupos de brasileiros que moram perto, têm condomínios inteiros e bairros. E o ICE, que é a polícia de imigração, tem estado presente por lá, então ninguém sai de casa", destaca.

A Brazilian Work Center tem feito, junto com outras organizações especializadas na questão imigratória, sessões do que eles chamam de "conheça seus direitos" ou, em inglês "know your rights".

André explica que essas sessões são informativas, para que as pessoas conheçam, de fato, os seus direitos, como agir e não agir caso tenham alguma interação com a imigração. Alguns dos encontros contam com a presença de advogados.

"A gente tem ido bastante em igreja, tem vários eventos em escola, centros comunitários, on-line. Inclusive, tem vários eventos que a gente tinha que eram presenciais e foram remarcados para o modo on-line, porque as pessoas estão com medo de sair", cita Simões.

Na ocasião das reuniões, os imigrantes podem assinar um documento chamado "caregiver update", que é uma permissão para que uma outra pessoa possa ser responsável por buscar o filho do imigrante na escola. E, segundo ele, há debates para que as crianças tenham aulas remotas.

"São justamente esses documentos que ajudam a comunidade a se preparar junto desses eventos que a gente faz", frisa.

"A gente ainda não sabe o tamanho do impacto, mas a gente sabe que localmente isso já representa algum impacto, pelo menos na minha percepção, quando eu vou para os comércios, eu vejo que está muito mais vazio, tem muito menos imigrantes e que as crianças têm deixado de ir para escola", completa.

Fonte: G1

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