
O movimento das marés faz da Praia de Arpoeiras, no município de Acaraú, situado a 238 quilômetros de Fortaleza, no litoral oeste do Ceará, um lugar de cenários diferentes ao longo do mesmo dia. Na orla, o fenômeno natural da "praia seca" deixa um espaço de até 4 km de faixa de areia durante a maré seca. A distância e os horários de maré baixa variam conforme as fases da Lua.
O local é considerada uma praia deserta e tranquila, contando com uma boa estrutura para o turismo: pousadas, restaurantes, calçadão e barracas de praia.
A praia fica a cerca de 30 quilômetros de Barrinhas — uma das mais procuradas de Acaraú — e a cerca de 1h30 minutos da Vila de Jericoacoara.
Nos lagos e piscinas naturais, os banhistas podem curtir relaxar nas águas mais tranquilas. No mar, as ondas não são altas, convidando à prática de esportes, como o kitesurfe.
O fenômeno conhecido na região como "praia seca" acontece duas vezes por dia. Em dias de Lua Cheia e Lua Nova, a faixa de areia ganha até 4 km de extensão.
É nestas fases da Lua que a variação entre a maré alta e maré baixa fica maior. Nos períodos do Quarto Minguante e do Quarto Crescente, essas distâncias caem para até 2 km de faixa de areia.
Os trabalhadores e moradores locais costumam saber os horários de cheia e seca na praia. Isso porque o fenômeno muda por influência do calendário lunar, como explica o empresário Ivo Gomes, que está na região há 25 anos e é dono de uma pousada e de um restaurante.
Como a Lua sempre nasce 50 minutos mais tarde em relação ao dia anterior, os horários de maré baixa vão mudando.
“Na Lua Cheia, a Lua começa a sair [nascer] por volta das 18 horas, ela [a maré] começa a secar. Então ela passa a tarde cheia e só vai secar à noite. E também de manhã ela passa o tempo todo seca, vai começar a baixar entre 6 horas e 7 horas”, exemplifica Ivo.
São duas formas de prever os momentos de praia seca: consultar as informações das tábuas de marés ou simplesmente observar a natureza.
“Quase todos os trabalhadores por aqui são parentes de pescadores. E o pescador, só de olhar pra Lua, já sabe. Se ele estiver no centro da cidade, ele olha pro céu e diz onde tá a maré. Aqui ele tem que saber porque o barco só vai para o mar se a maré estiver cheia”, explica o empresário.
Pesca, passeios e esportes
O nome da praia já ajuda a contar a relação do lugar com a variação das marés. “Arpoeiras” remonta à prática da pesca com o uso do arpão, ferramenta utilizada pelos indígenas da região nas águas rasas, segundo conta o biólogo Itamar Ferreira, secretário do Meio Ambiente em Acaraú.
Alguns fatores da praia ajudam a explicar a grande variação das marés altas e baixas, como a posição geográfica. A região de inclinação no fundo do mar entre a plataforma continental e a costa (conhecida como talude continental) é bastante rasa. O fato de ser uma praia estuarina, próxima ao rio Acaraú, também é um fator que favorece o fenômeno, segundo Itamar.
Como contextualiza, a pesca artesanal é essencial para as famílias da região, que também conta com a técnica da pesca de currais. Com armadilhas fixadas no solo, os pescadores aproveitam o mar tranquilo para aprisionar os peixes nas estruturas montadas por eles.
Os currais podem ser vistos facilmente pelos banhistas durante a maré baixa. Por isso, a Prefeitura executa um projeto para sinalizar as áreas de currais, buscando garantir a segurança também para quem pratica kitesurf nas águas de Arpoeiras.
A prática do esporte, principalmente com os ventos fortes do segundo semestre do ano, é facilitada na praia.
“Quando ela está na maré cheia, você anda quilômetros com a água na altura do umbigo. Para iniciantes de kitesurf, é uma praia propícia. Se você cair da prancha e a vela cair na água, é só você ficar de pé e recolher o seu material”, ilustra o secretário.
O empresário Ivo Gomes complementa com as possibilidades de passeios na região, que também inclui o rio Acaraú. Stand-up paddle, passeios de kite-buggy (espécie de triciclo impulsionado por um kite), passeios de barco e até a oportunidade de pescar são serviços disponíveis em Arpoeiras.
Ele explica que não é permitido o trânsito de carros na areia da praia, compreendida por uma faixa de cerca de 5 km a partir do rio Acaraú. Ele explica que a maré sobe gradualmente, com tempo hábil para que os banhistas saiam sem riscos.
No entanto, ele comenta que alguns turistas já insistiram em deixar veículos na "praia seca", contrariando as orientações e precisando da ajuda de reboque.
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