A Capela de Nossa Senhora de Lourdes de Campo Maior (1899)
CAPELA DE NOSSA SENHORA DE LOURDES, SUA ORIGEM – Por Octacílio Eulálio
Este artigo é baseado em informações que me prestavam meus avós maternos e estimados padrinhos de batismo, Cel. Antônio Maria Eulálio Filho e D. Maria Joaquina do Nascimento Eulálio, que me criaram desde os meus dois aninhos de vida, quando tive a desventura de perder o meu pai Fábio Maria Eulálio Filho. (Aqui o meu pleito de veneração e saudades).
Eles costumavam, em palestras agradáveis, me revelar o passado histórico de Campo Maior. Assim, foram no ano de 1899 determinadas para o mês de novembro, as SANTAS MISSÕES para Campo Maior pelo Bispado do Maranhão ao qual estava subordinada a Paróquia de Santo Antônio.
No dia aprazado, os homens de maior representação da cidade se reuniram e em seus cavalos garbosos foram ao encontro do missionário que deveria pregar as Missões. Já de volta, em certo lugar, o Missionário Frei Mansuetto Maria Perveranza destacou o seu cavalo e procurou contemplar o panorama campo-maiorense olhando para todos os lados. Os demais ficaram surpresos com a brusca atitude do enviado de Deus.
À noite, no primeiro sermão, Frei Mansuetto, que era orador de fôlego, a exemplo do Mons. Mateus, quando em seus dias de inspirações poéticas distendeu os seus braços para o povo como em um amplexo amigo e disse: "Estou empolgado com a beleza de vossos campos e as magníficas paisagens da terra de Santo Antônio de Campo Maior.
Tenho em meu coração um grande desejo: construir no Alto denominado MONTE VIDEO, uma capela a N. S. de Lourdes que desejo dar a bênção antes de me retirar". O povo aplaudiu delirantemente a ideia do Frei Mansuetto e já no dia seguinte os sinos de Santo Antônio e N. S do Rosário repicavam festivamente e o povo: homens, mulheres e crianças, rumo às olarias da cidade, em procissão, traziam sobre os ombros tijolos, barro e areia para a construção.
Frei Mansuetto colocou a primeira pedra, solenemente, no dia 14 de novembro e no dia 02 de dezembro, já concluída, deu bênção à primitiva e histórica capelinha de N. S. de Lourdes, tendo assinado a ata da solenidade da bênção as seguintes pessoas: Pe. Manoel Félix Cavalcante de Barros, Frei Mansuetto Maria Perveranza, Pe. Fábio José da Costa, Lizandro Pereira da Silva, EmydioGenuíno de Oliveira, Justino Augusto da Silva Moura, João Antônio Pacheco, Antônio Maria Eulálio, Antônio Rodrigues de Miranda, Antônio da Costa Araújo, Raphael Archanjo de Oliveira, Antônio Maria Eulálio Filho, Antônio José da Costa, Dr. Pedro d'Alcântara Teixeira, Ernesto de Figueiredo, José Vicente de Figueiredo, Vicente Pacheco, Ângelo Pacheco, Fábio Maria Eulálio, Francisco Figueiredo da Silva Duarte, Antônio de Sousa Borges, Francisco de Melo Bastos e o Seminarista José Paulino de Miranda.
Em seguida ao ato da bênção foi cantada a Santa Missa por Frei Mansuetto e a capelinha estava completamente lotada.
Frei Mansuetto veio a Campo Maior plantar no coração campo-maiorense a devoção a N. S. de Lourdes e tal um João Batista aplainar os caminhos para em tempo oportuno o Mons. Mateus construir ao lado esta obra monumental que é o Patronato Nossa Senhora de Lourdes, que eu tenho prazer em dizer: Pegado na ponta da trena e no cordão ajudei o Mons. Mateus a medir e marcar estas salas de aula onde já se diplomou grande parte da mocidade campo-maiorense.
O Patronato N. S. de Lourdes é dirigido sabiamente pelas Irmãs de Santa Tereza, esmeras educadoras em nosso meio. (1)
ACTA DA INAUGURAÇÃO E BENÇÃO DA CAPELA DE NOSSA SENHORA DE LOURDES (2/12/1899)
Aos dois dias do mês de dezembro do ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e noventa e nove, arrebalde da cidade de Santo Antônio de Campo Maior, do Estado do Piauhy, Bispado do Maranhão, no auto denominado – Monte Video, ao lado do sul da mesma cidade, ali pelo virtuoso e muito reverendo Frei. Mansueto de Maria Peveranza, em Santas Missões por delegação do Exm.º e Revm.º Senhor Bispo Diocesano, servindo com muitas pessoas de ambos os sexos, no dia 14 do mês de novembro, próximo findo, foi por ele colocada a primeira pedra do edifício da capela de Nossa Senhora de Lourdes, por ele sugerida de acordo com o muito reverendo vigário desta freguesia Padre Manuel Félix Cavalcanti de Barros; e achando-se a mesma capela, edificada às expensas dos fiéis e esforços do mesmo reverendo missionário, em estado decente e apropriada para a celebração do Culto Divino, nela presentes o referido reverendo vigário desta freguesia, o dito reverendo missionário, o reverendo padre Fábio José da Costa e grande número de pessoas de ambos os sexos, foi pelo mesmo reverendo missionário Frei. Mansueto de Maria Peveranza, solenemente benta a mesma capela de Nossa Senhora de Lourdes, filial a igreja Matriz de Santo Antônio, com todas as formalidades eclesiásticas; sendo testemunhas a este solene ato as pessoas abaixo assignadas. Concluindo este solene ato, em seguida passou o mesmo reverendo missionário, a celebrar missa cantada na dita capela em ação de graças a Nossa Senhora de Lourdes. E para a todo tempo (?) mandou o muito reverendo vigário desta freguesia lavrar a presente ata em que assigna com os reverendos missionário e padre Fábio e as testemunhas presentes.
E eu João Antônio Pacheco, escrivão do eclesiástico ad hoc a escreves.
Ass.:
O Vigário Padre Manoel Félix Cavalcante de Barros, Frei. Mansueto Maria de Peveranza, Padre Fábio José da Costa, Lizandro Pereira da Silva, EmydioGenuíno de Oliveira, Justino Augusto da Silva Moura, João Antônio Pacheco, Antônio Maria Eulálio, Antônio Rodrigues de Miranda, Antônio da Costa Araújo, Raphael Archanjo de Oliveira, Antônio Maria Eulálio Filho, Antônio José da Costa, Dr. Pedro d'Alcântara Teixeira, Ernesto de Figueiredo, José Vicente de Figueiredo, Vicente Pacheco, Ângelo Pacheco, Fábio Maria Eulálio, Francisco Figueiredo da Silva Duarte, Antônio de Sousa Borges, Francisco de Melo Bastos e o Seminarista José Paulino de Miranda. (2)
PADRE FREI. MANSUETO MARIA DE PEVERANZA, O.F.M.Cap (1857-1937)
Cesare Saporiti nasceu em 17 de outubro de 1857, em Peveranza, município autônomo do distrito de Gallarate, no XII distrito da província de Milão, então parte do Reino Lombardo-Veneto. Cesare exerceu a profissão de caldeireiro. Em maio de 1879 viu seu irmão Santino morrer tragicamente, com apenas dezesseis anos de idade. Muito provavelmente esta circunstância ajuda a amadurecer a sua vocação religiosa e a aproximá-lo definitivamente da vida conventual. Viveu então a juventude em Peveranza e abraçou a Ordem dos Capuchinhos em 1880, tomando o hábito e o nome de Mansueto Maria, após o que em 15 de fevereiro de 1886 foi ordenado sacerdote.
Em 1892, o Papa Leão XIII afirmou a importância de conduzir os povos da América Latina às instituições cristãs, assim se formou no Brasil a primeira missão capuchinha da Província da Lombardia; Padre Mansueto foi enviado por seus superiores ao Brasil para realizar ali a atividade missionária.
Em 10 de abril de 1892 partiu para a Missão no Brasil, que o manteve ocupado até sua morte em setembro de 1937. Alternando naqueles anos fazendo missões no Maranhão, no Amazonas, no Pará, no Piauí e no Ceará; veio a ter sua primeira designação missionária na diocese brasileira de Belém do Grão-Pará. Ali o Padre Mansueto foi nomeado capelão do hospital da «Ordem Terceira» onde em pouco tempo pôde renovar os Terciários e incutir neles um mais profundo espirito franciscano.
Nos primeiros anos do século XX o Padre Mansueto foi enviado para Fortaleza, sede diocesana desde 1854, como coadjutor da igreja local do Sagrado Coração de Jesus. Longos foram os anos de incansável atividade tanto em Fortaleza quanto no território cearense, ocupando diversos cargos religiosos e sempre em contato com a população.
Sua vida: 57 anos de Religião, 50 de Sacerdócio, 45 de Missão.
Sua morte: 20.000 pessoas desfilam diante de seu caixão; as condolências de um povo por um de seus grandes benfeitores.
Este frade capuchinho, como transparece das crónicas da época, bem como da memória dos seus confrades, deixou "marcas indeléveis" da sua longa vida terrena, e da memória duradoura que se faz presente nas comunidades franciscanas ultramarinas, e na cidade de Fortaleza testemunham isso, onde uma rua central da cidade lhe foi dedicada em memória perene. (3)
Referências:
1. LIMA, Reginaldo Gonçalves. Geração Campo Maior: anotações para uma enciclopédia. Campo Maior-PI, 1995. p. 299-300.
2. LIVRO DE TOMBO. Freguesia de Santo Antônio de Campo-Maior, 1883. Vol. 1. Arquivo da Diocese de Campo Maior-PI. f. 10-11.
3. CROSTA, Giovanni. Padre Mansueto Maria da Peveranza, Vita e Opere (1857 – 1937): “o frade impertinente e o pararaios di Cearà”.
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